Redação
Há exatamente 50 anos, na manhã do dia 11 de setembro de 1973, o Palácio de La Moneda, sede da Presidência da República do Chile, era bombardeado e invadido por militares no episódio que consolidou um dos golpes de Estado mais emblemáticos da história da América Latina no século 20.
Além de pôr fim ao governo e à vida do então presidente Salvador Allende, o golpe militar do Chile inaugurava a ditadura do general e Augusto Pinochet, que duraria 17 anos e deixaria um rastro de mais de 3 mil assassinatos e desaparecimentos.
Nesta segunda-feira, em memória aos 50 anos do golpe, representantes do governo, militares e milhares de chilenos participaram do ato “Democracia hoje, amanhã e sempre”. Além de discursos e pronunciamentos, o público presente fez um minuto de silêncio no Palácio de La Moneda em homenagem às vítimas da ditadura.
A cerimônia oficial também contou com a presença de líderes políticos da América Latina, como os presidentes Gustavo Petro, da Colômbia, López Obrador, do México, Lacalle Pou, do Uruguai e Luis Arce, da Bolívia. Pelo Brasil, estiveram presentes os ministros Flavio Dino (Justiça e Segurança Pública) e Silvio Almeida (Direitos Humanos).
Contudo, apesar das manifestações em defesa da democracia e dos direitos humanos, cinco décadas depois do golpe, o Chile tem atravessado um momento de agitação e tensão política. Em discurso durante a cerimônia desta segunda-feira, o presidente Gabriel Boric afirmou: “A democracia não está garantida, e é dever da democracia estar atenta ao bem-estar da população. Cuidar do ambiente, das mulheres, do meio ambiente. Isso é cuidar da democracia”.
Segundo Boric, que nasceu 13 anos após o golpe, é necessário “recordar aquela verdade incômoda, mas essencial, a nos dizer que a democracia não está garantida e que temos de trabalhar transversalmente todos os dias para cuidar dela”.
“É muito importante reforçar que não se pode separar o golpe do que ocorreu depois. Nada positivo pode nascer em um país se está fundado no abuso de direitos humanos”, acrescentou.
Tensão
Na última semana, o governo chileno apresentou, por meio de decreto presidencial, o Plano Nacional de Busca de Vítimas de desaparecimento durante o regime militar. A iniciativa segue a linha da “Comissão Valech”, criada em 2004, pelo ex-presidente Ricardo Lagos.
No entanto, nem mesmo o plano de buscas foi capaz de unir partidos de esquerda e direita do país que desde o “Estallido” – nome dado às manifestações massivas de 2019 – tem enfrentado o clima de polarização política em praticamente todas as esferas da sociedade.
Em 2022, por exemplo, um ano após eleger uma nova Assembleia Constituinte, a população do chile rejeitou, em plebiscito, uma proposta progressista de Constituição que substituiria a atual, em em vigor no país desde a ditadura de Pinochet. A nova proposta – agora elaborada por maioria de representantes da direita – será avaliada em novo plebiscito em 17 de dezembro.
Memória
De acordo com registros oficiais do governo chileno, além dos mais de 3 mil assassinatos e desaparecimentos, a ditadura de Pinochet prendeu e torturou quase 40 mil pessoas. O governo estima que mais de 200 mil foram exilados no período pós-golpe.
Ainda assim, segundo pesquisa do Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc) e do instituto MORI, o percentual de pessoas que acreditam que houve razão para o golpe de Estado de 1973 caiu de 36% em 2003 para 16% em 2013, mas, este ano, voltou a atingir o patamar dos 36%.


No último domingo (10), por exemplo, a “Marcha de La Romería”, evento tradicionalmente realizado na véspera da data de aniversário do golpe em memória das vítimas da ditadura, chegou a ser interrompida por manifestantes antigoverno que atiraram pedras no Palácio de La Moneda e coquetéis molotovs contra policiais.
Em agosto, parlamentares chilenos de partidos de direita e ultradireita fizeram questão de apoiar, no Congresso, a declaração parlamentar de 1973 que acusou Salvador Allende de romper a ordem constitucional poucos dias antes da sua deposição e morte.
Allende
Salvador Allende foi eleito presidente do Chile em 1970 pela coligação Unidade Popular. Com isso, foi primeiro presidente socialista da América Latina a chegar ao poder democraticamente. Seu governo ficou conhecido por tentar implantar uma economia socialista “com sabor de empanada e vinho tinto”, itens tradicionais da cultura alimentar chilena.
Allende morreu no dia 11 de setembro de 1973. Em cumprimento à promessa de jamais renunciar o cargo para o qual foi eleito, o presidente se suicidou dentro do La Moneda enquanto este era atacado pelas forças militares.
*com informações do Brasil de Fato, Carta Capital, Metropoles, Poder 360, G1 e Folha de S. Paulo