Nesta terça-feira, dia 8 de março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Como em anos anteriores, milhares de mulheres organizadas em todo o país ocuparam ruas, praças, avenidas, rádios, TVs, e redes sociais para, mais uma vez, lutar pela igualdade de direitos e contra o machismo da sociedade brasileira.
Em 2022, além de reafirmar a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz e a solidariedade como valores fundamentais, movimentos e grupos feministas fizeram questão de destacar o direito das mulheres à vida. Sobretudo em um contexto em que as violências contra a mulher têm sido agravadas pela crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19 e pela crise econômica e política que tem empurrado milhares de mulheres para situações de vulnerabilidade social.
De acordo com a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), movimento que reúne coletivos feministas e de mulheres em todo mundo, as mulheres têm sido as mais afetadas por questões globais como a “mercantilização e privatização dos serviços públicos, a degradação da natureza e a crise ecológica que impulsiona a crise climática”. Ainda assim, na declaração deste ano, a MMM ressalta que “em todo o mundo, as mulheres estão na linha de frente da demanda por mudanças”:
“Não saímos das ruas mesmo nos piores dias, fizemos magníficas manifestações e resistências, especialmente no dia 8 de março. Estamos entusiasmadas com o lugar onde chegamos através da luta, que organizamos com o riso, a voz, a esperança e os sonhos umas das outras”, afirma o texto do movimento.
Fortalecidas
Com mais de 40 anos de participação em movimentos de mulheres, a radialista e integrante da Rede de Mulheres da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc Brasil), Célia Rodrigues também defende que a luta feminista segue forte e atuante no Brasil. Para ela, nem mesmo os desmontes de políticas públicas promovidos pelo Governo Federal foram capazes de arrefecer a organização dos coletivos de mulheres espalhados pelo país.
“Esse governo violou tratados de várias convenções e conferências internacionais que traziam benefícios enormes para as mulheres. A gente recebia, por exemplo, o suporte do Governo Federal através do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher pela Secretaria de Políticas para as Mulheres. Nós perdemos tudo isso, mas a gente não ficou à deriva. Por isso que eu digo: Nós estamos fortalecidas!” afirmou a comunicadora à Pulsar.


Em relação à renovação da luta das mulheres no Brasil, Célia lembra que é sempre importante registrar os passos dados até hoje. “É fundamental que a gente perceba que, dentre uma guerra que não acaba nunca, nós temos muitas batalhas ganhas”.
Neste sentido a radialista destaca o histórico esforço de articulação política das mulheres para a criação de mecanismos legais de proteção e combate à violência contra a mulher, como a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) e a Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15). Para Célia, assim como a defesa da liberdade e da igualdade de direitos, a solidariedade está na base dos movimentos feministas.
“Enquanto a gestão pública deixa de fazer o seu trabalho – não por falta de orçamento, condição ou de estrutura, mas por descaso mesmo – nós vamos lá e fazemos o trabalho da gestão pública. Tá certo? Não está certo, mas o que não podemos é deixar as mulheres serem reféns dos algozes da violência. Continuamos essa luta e vamos mudar o mundo, sim, com certeza”, garantiu.
Diversidade
Para a jornalista Sofia Hammoe, a falta de igualdade de oportunidades segue como um dos principais obstáculos para que mais mulheres ocupem e, de fato, assumam espaços de poder e decisão na sociedade.
Mesmo assim, com mais de 30 anos de militância em organizações e movimentos pelos direitos à liberdade de expressão e comunicação, a associada da Amarc considera notável o crescimento do número de mulheres envolvidas com o debate sobre a democratização da comunicação e, mais que isso, a qualidade que as discussões ganham com a participação das mulheres.
“O direito à comunicação não é solto. Como todos os direitos humanos, ele só se concretiza se outros direitos também são garantidos como, por exemplo, os direitos humanos para todas as mulheres”, explicou à Pulsar.


Ao se referir a “todas as mulheres”, Sofia reforça a importância de que a luta por igualdade de direitos também esteja atenta às diversas opressões que atingem a vida de diferentes grupos de mulheres.
“Nós, mulheres, somos diversas e estamos também atravessadas por diversos tipos de opressões. Não é o mesmo tipo de vulnerabilidade que sofremos, por exemplo, mulheres de classe média, mulheres indígenas ou mulheres trans. Ainda precisamos assumir a interseccionalidade das diversas opressões que temos que carregar além do fato de sermos mulheres”, comentou a jornalista.