Protestos, atos públicos, denúncias, doações de alimento, plantio de árvores e manifestações nas redes sociais. Estas são apenas algumas das ações que, desde a madrugada desta segunda-feira (7), véspera do Dia Internacional da Mulher, tem sido realizadas por milhares de mulheres Sem Terra em todo Brasil.
As atividades fazem parte da tradicional “Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra”, que neste ano ocorre entre os dias 7 e 14 de março e traz o lema: “Terra, Trabalho, Direito de Existir. Mulheres em Luta não vão sucumbir!”.
De acordo com as mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), durante a Jornada as camponesas denunciam as violências estruturantes contra as mulheres, a mercantilização da vida, dos bens comuns e da natureza e o aumento da fome no Brasil. As mobilizações também defendem o projeto de Reforma Agrária Popular e a soberania alimentar, entendida como o direito dos povos de definir as próprias políticas e estratégias de produção, distribuição e consumo de alimentos.
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Em 2022, os protestos por terra, trabalho e condições dignas de vida para as mulheres tem sido embalados também pela voz e o legado de Elza Soares. Segundo as mulheres do movimento, mesmo após sua morte, no dia 20 de janeiro deste ano, a cantora que ficou conhecida como a “Mulher do Fim do Mundo” segue inspirando as mulheres Sem Terra “para seguirem a luta contra a fome, produzindo alimentos saudáveis, ocupando o latifúndio, denunciando o agronegócio e combatendo todo tipo violência”.
De acordo com dados levantados pelo MST, a cada hora 30 mulheres são agredidas fisicamente no Brasil. Por dia, três mulheres são vítimas de feminicídio e, a cada 10 minutos, uma mulher é vítima de estupro no país.
O movimento também lembra que, atualmente, mais de 123 mil famílias brasileiras estão ameaçadas de despejo ou remoção e que, “devido a política de fome do governo Bolsonaro, no Brasil cerca de 20 milhões de pessoas passam fome e 117 milhões sofrem com algum grau de insegurança alimentar”. Ainda segundo o MST, as mulheres costumam ser as que mais sofrem com o desemprego, a fome, a miséria e a falta de saúde pública no país.
Atos
Ao longo desta segunda-feira, as mulheres do MST promoveram ações em cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e no Distrito Federal.
Em São Paulo, as militantes realizaram um protesto contra o uso de agrotóxicos em frente à fábrica da empresa suíça Syngenta, na cidade de Paulínia, a 120km da capital paulista. Segundo o MST, a Syngenta é responsável pela produção do Paraquat, “um dos agrotóxicos mais perigosos do mundo, que já foi proibido em mais de 50 países desde 1989”. No município de Lençóis Paulista, o protesto foi em frente a empresa multinacional Bracell, conhecida pela produção industrial de celulose no país.
Na mesma linha, no Rio de Janeiro, um grupo de 70 mulheres realizou um ato em frente a Bunge, no município de Duque de Caxias, região da baixada fluminense. Segundo o movimento, a empresa foi escolhida como alvo para o protesto por representar as multinacionais do agronegócio instaladas no país. Ainda de acordo com o MST, a Bunge foi uma das empresas do ramo que mais lucrou em 2021.
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Também nesta segunda-feira as mulheres do Mato Grosso realizaram um protesto na sede da Amaggi, empresa de propriedade da família do ex-ministro da Agricultura, ex-senador e ex-governador do estado, Blairo Maggi (PP). No Sergipe, as camponesas saíram de seus acampamentos e assentamentos e foram até a superintendência do Incra, na capital Aracaju, para denunciar o descaso do Governo Federal com a pauta da Reforma Agrária.
No Rio Grande do Norte, a segunda-feira foi de arrecadação de absorventes femininos para doação a grupos de mulheres em situação de vulnerabilidade. A atividade chama atenção para a importância do combate à pobreza menstrual no estado. Já no Distrito Federal, as Mulheres do MST promoveram um mutirão de doação de sangue no Hemocentro de Brasília (DF).
Tuitaço
Também nesta segunda-feira foi realizado um “tuitaço” da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra. Desde as 8h milhares de usuárias e usuários compartilharam mensagens ligadas à luta das mulheres por direitos com as hashtags #8M , #MulheresNãoVãoSucumbir e #TerraTrabalhoDireitoDeExistir.
A Associação Mundial das Rádios Comunitárias (Amarc Brasil) foi uma das organizações que participaram da mobilização. Nas redes, a Amarc fez questão de lembrar que “As mulheres são responsáveis por quase metade das famílias brasileiras, arcando com as condições de sobrevivência familiar e dos conflitos com o aumento da fome no Brasil, onde a renda média do trabalho encolheu 10,7% em 1 ano”.
✊?? As mulheres são responsáveis por quase metade das famílias brasileiras, arcando com as condições de sobrevivência familiar e dos conflitos com o aumento da fome no Brasil, onde a renda média do trabalho encolheu 10,7% em 1 ano #MulheresNãoVãoSucumbir
— Amarc Brasil (@AmarcBrasil) March 7, 2022
A associação também destacou a pesquisa do Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que aponta que, em 2021, uma em cada quatro mulheres com mais de 16 anos sofreu algum tipo de violência doméstica no país.
Os materiais de divulgação e outras informações sobre a Jornada Nacional de Luta das Mulheres podem ser baixados e acessados na página do evento.