Milhares de indígenas de todas as regiões do país estão reunidos, desde segunda-feira (4), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF), para a 18ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL). Em 2022, a maior mobilização popular do movimento indígena brasileiro traz o tema: “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”.
A expectativa da organização é de que pelo menos oito mil indígenas participem da ocupação e das atividades programadas para acontecer entre os dias quatro e 14 de abril, justamente o período em que o Congresso Nacional deve pautar projetos que atentam contra os direitos dos povos originários, como o Projeto de Lei 191/2020, que abre as Terras Indígenas (TIs) para a exploração em grande escala de mineração, hidrelétricas e grandes projetos de infraestrutura.
Segundo a organização do ATL 2022, ao longo dos dez dias, os povos acampados usarão de suas tradições, cantos e palavras de ordem para denunciar a “política anti-indígena” do governo de Jair Bolsonaro (PL).
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Além de discutir temas ligados à demarcação de terras como o PL da Mineração, o PL 490/2007 – que altera a legislação de demarcação das TIs – e o julgamento do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os indígenas acampados em Brasília também apresentarão a proposta de “aldeamento da política brasileira” através do lançamento de uma bancada de mulheres indígenas para a disputa eleitoral deste ano.
Em carta aberta apresentada nesta terça-feira (5), as organizações e comunidades que compõem o Acampamento declaram que 2022 será “o último ano do governo genocida”. “Nossa luta é pela terra, pela vida, pelos nossos bens naturais e pela soberania do povo brasileiro!”, afirmam os povos indígenas em trecho da carta.
Aldear a política
De acordo com as lideranças indígenas reunidas na Esplanada dos Ministérios, a luta pela demarcação dos territórios segue como a “bandeira principal” do ATL 2022. No entanto, as lideranças reforçam que o evento também pretende chamar atenção para a necessidade de “aldear a política”.
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Segundo a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara: “quando falamos em aldear a política, estamos querendo garantir que nós tenhamos representatividades indígenas nestes espaços na política institucional”. Na mesma linha, o texto da carta lançada nesta terça-feira defende que os povos indígenas também devem reivindicar a política como território a ser ocupado.
“Partimos da luta nos territórios virtuais e locais de atuação política e social, baseados na nossa sabedoria ancestral, no cuidado com o povo e com o território brasileiro para dizer: ‘a política será território indígena sim!'”, destaca o documento.


Em entrevista à Pulsar Brasil direto do ATL 2022, Cícera Guajajara, irmã de Sônia e coordenadora das Guerreiras da Floresta – grupo de mulheres da Terra Indígena Caru, no Maranhão – explicou que é a união política dos povos indígenas que faz com que mesmo comunidades que já tiveram suas terras demarcadas continuem mobilizadas na luta por direitos.
“Para falar a verdade, a gente [da TI Caru] já tem a nossa terra demarcada graças aos nossos antepassados. Mas não quer dizer que, só por isso, a gente está sentado com as pernas e os braços cruzados. Estamos aqui nessa luta porque nós temos parentes que estão precisando que suas terras sejam demarcadas”, pontuou à Pulsar.
A 18ª edição do Acampamento Terra Livre é realizada pela Apib junto com organizações de base como a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho Terena e a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY). Também integram a organização do evento a Aty Guasu – Grande Assembleia dos Povos Guarani e Kaiowá –, a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ARPINSUL) e a Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (ARPINSUDESTE).
Apoio
Parceira histórica das lutas dos povos indígenas no Brasil, a Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc Brasil) publicou, nesta terça-feira, uma nota em que “apoia todas as causas sinalizadas nesta edição do ATL”.
“Lutaremos juntos e juntas para que as vozes indígenas sejam ouvidas e reverberem sua força e resistência na construção de um Brasil democrático e, de fato, para todas as populações”, declara o documento.
*Com a colaboração de Marquinho Mota
Edição: Jaqueline Deister