Redação
“Digam ao Bruno que manteremos a resistência”. Este foi o recado dado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) após a Polícia Federal (PF) confirmar, na última segunda-feira (23), que Ruben da Silva Villar – o ‘Colômbia’ – foi o mandante dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, em 5 de junho de 2022.
Em nota publicada nas redes sociais, a Univaja destaca que o indiciamento de Colômbia “só confirma as informações produzidas pelo próprio Bruno antes de sua morte”. Segundo a entidade, o suposto mandante apontado pela PF “é apenas uma peça no tabuleiro criminoso. Uma espécie de gerente que age a mando de alguém”.
“Mas ainda há muitas perguntas sem respostas: quem financia o crime na região? Por que os políticos locais ficaram tão exaltados com a prisão dos criminosos, inclusive patrocinando a defesa inicial? E por que muitos criminosos tiveram apoio das administrações públicas locais, inclusive permanecendo em folha de pagamento mesmo estando presos, conforme noticiaram os jornais?”, questiona a Univaja.
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Ainda de acordo com a organização, após a morte de Dom e Bruno diversas lideranças indígenas da região continuam “em estado extremo de ameaça”. Neste contexto, a Univaja alerta que “é preciso uma força tarefa de investigação, além do que já existe, para esclarecer o real interesse dos grupos criminosos na região”.
Investigação
Na última segunda-feira, a Polícia Federal informou que, com a confirmação do envolvimento de ‘Colômbia’ como mandante dos assassinatos de Bruno e Dom, “90% das investigações” estariam finalizadas.
Investigado por suspeita de operar um esquema de pesca ilegal e venda de peixes na reserva indígena Vale do Javari – na fronteira do Brasil com Peru e Colômbia – o suposto mandante já estava preso desde dezembro. ‘Colômbia’ havia sido detido em julho de 2022 por falsidade ideológica, chegou a ser solto após pagamento de fiança, mas voltou a ser preso no final do ano por descumprir as condições impostas pela Justiça Federal.
De acordo com a PF, existem provas de que ele fornecia embarcações para organização da pesca ilegal dentro da Terra Indígena (TI) Vale do Javari e de que teria fornecido as munições utilizadas pelos executores de Bruno e Dom. Além disso, o traficante teria feito o pagamento inicial a um advogado de defesa de Amarildo da Costa Oliveira, o ‘Pelado’ – um dos acusados já presos pelo duplo homicídio – e ligado para um dos suspeitos na véspera do crime e nos dias seguintes.
Até o momento, doze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas pelos crimes de duplo homicídio qualificado e associação criminosa para a pesca ilegal em área indígena. O processo tramita na Vara Federal de Tabatinga (AM).
As audiências de instrução estavam previstas para ocorrer na última segunda-feira, mas foram adiadas para março. De acordo com o juiz Fabiano Verli, houve “falha de comunicação” da Justiça Federal e indisponibilidade de salas para que os réus acompanhassem as audiências, que serão feitas por videoconferência.
Preocupação
Em entrevista à Amazônia Real, o advogado da Univaja, Eliésio Marubo, disse estar preocupado com o anúncio da PF de que a investigação está próxima do fim. Segundo ele, o indiciamento de ‘Colômbia’ como mandante “não desmantela o cenário criminoso” em torno da TI Vale do Javari.
De acordo com o advogado, a PF tem se precipitado em dar respostas rápidas, pois ainda existiria uma “trama que envolve políticos e empresários na região”.
“Estão querendo entregar o produto da investigação. O processo está em julgamento e estão querendo dar qualquer resposta”, disse Marubo à Amazônia Real.
*Com informações da Amazônia Real e Folha de S. Paulo