As pressões dos setores concentrados da economia sobre o mercado ilegal de dólares na Argentina, situação que fez a moeda internacional disparar para quase 500 pesos no meio da difícil tarefa que o governo tem de cumprir os acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), tiveram uma inesperada repercussão internacional nesta semana, no contexto da visita do presidente Alberto Fernández ao Brasil, quando o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou publicamente seu forte apoio político.
A visita do presidente argentino e de seus principais ministros ao Brasil buscou chegar a um acordo sobre o uso de moedas locais em operações comerciais bilaterais, a fim de evitar o dólar e, dessa forma, aliviar as reservas do Banco Central (BC) argentino. A situação é semelhante a que o ministro da economia argentino, Sergio Massa, anunciou na semana passada em relação às transações comerciais com a China.
As reuniões entre o presidente argentino e seu colega brasileiro deram os primeiros frutos quando Lula se comprometeu a interceder pela Argentina, tanto no âmbito dos BRICS, grupo de cooperação econômica formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, quanto no Fundo Monetário Internacional (FMI). De acordo com o presidente Lula, o FMI deveria “tirar a faca do pescoço do país” e permitir que a Argentina cresça.
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Além disso, o presidente do Brasil se referiu as condições ilegais em que a dívida de mais de 40 bilhões de dólares foi adquirida, uma dívida assumida pelo governo do ex-presidente Maurício Macri, violando os estatutos do próprio FMI, e que acabou quase que totalmente incentivando a fuga de divisas do país, algo que também é proibido pelo Estatuto do Fundo Monetário Internacional.
O endividamento foi fortemente questionado e combatido por organizações sociais, de direitos humanos, sindicais e políticas do país, e pelo próprio Alberto Fernández, que chegou a anunciar no Congresso da Nação uma investigação sobre as dívidas do país, mas, no final, o presidente argentino acabou aceitando e assumindo o compromisso de pagar por meio de uma série de acordos impossíveis de serem cumpridos na atual situação de fragilidade econômica do país.
Fernández encontrou na visita ao Brasil, e no apoio do presidente Lula, um forte respaldo internacional de vital importância para enfrentar os desafios econômicos impostos à Argentina.
Edição: Jaqueline Deister