Desde a última terça-feira (1), diversas organizações sociais do Brasil tem publicado homenagens ao economista e defensor dos Direitos Humanos, José Carlos Zanetti, que faleceu na última terça-feira (1), aos 75 anos de idade.
Nascido no Paraná, Zanetti passou parte da vida no estado da Bahia, onde foi preso político durante a ditadura militar e atuava, nas últimas décadas, como assessor de projetos da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), apoiando movimentos sociais, associações de bairros, cooperativas e demais organizações ligadas à luta por direitos.
O velório e cerimônia de cremação do economista foram realizados na tarde desta quarta-feira (2), no cemitério Jardim da Saudade, em Salvador.
Em nota, a Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc Brasil) lamentou a morte do militante e fez questão destacar a generosidade de Zanetti em suas contribuições com a luta pela democratização da comunicação.
“Nossas associadas rádios comunitárias, coletivos de comunicação comunitária e militantes da luta pela democratização da comunicação sempre foram valorizadas e apoiadas, afetuosamente, pela Cese e, particularmente, por Zanetti”, recorda um trecho da nota, que finaliza:
“Nós, da AMARC Brasil, nos sentimos honrados e honradas pelas oportunidades que Zanetti partilhou seus conhecimentos conosco. Nossa palavra é sincera: Gratidão”.
Legado
De acordo com nota da Cese, Zanetti era conhecido pelo espírito “brincalhão e irreverente”, mas sobretudo pela “aguçada e refinada sensibilidade” ao olhar para a História com esperança de dias melhores e pela “firmeza ao defender o que achava justo”.
Militante da Ação Popular (AP) durante a juventude, José Carlos Zanetti se mudou para a Bahia em 1970 para escapar da repressão durante a ditadura militar. Contudo, foi preso logo em 1971, quando retornava de Feira de Santana para uma reunião em Cabuçu, no Recôncavo baiano.
Zanetti ficou preso durante dois anos e meio e chegou a ficar meses isolado em solitárias. No período seguinte, foi julgado e condenado a três anos de reclusão. O militante também teve seus direitos políticos cassados por dez anos. Foi durante a prisão na Galeria F da Penitenciária Lemos de Brito, na capital baiana, que casou com a médica e companheira Cleusa Borges.
Sempre atento às lutas de seu tempo, em 2014, em depoimento à Comissão da Verdade na Bahia, o ex-preso político lembrou o período de agressões e torturas, mas também destacou a “versão atualizada da tortura e do extermínio” que continua a afligir pessoas e comunidades inteiras das camadas mais vulneráveis da sociedade brasileira. Segundo ele: “Nós ainda ostentamos recordes de assassinatos de jovens e adolescentes, negros em sua maioria. Direitos ainda precisam ser conquistados e garantidos”.
Para a Cese, no atual momento político do Brasil, “com o esgarçamento acelerado de todos os direitos, as permanentes ameaças aos movimentos sociais e à própria democracia” o exemplo e trajetória deixados pelo “amoroso revolucionário” seguirão inspirando gerações e servindo de alento para lutadoras e lutadores sociais em todo Brasil.