Na última sexta-feira (21), o presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou que não se candidatará à reeleição nas próximas eleições gerais de outubro. Por meio de um vídeo com tom épico, ele fez um balanço de sua administração e reconheceu que, embora seu governo “não tenha alcançado tudo o que se propôs, nunca tomou uma única medida contra o povo”.
Em seus argumentos, o chefe de Estado apontou para a administração do governo anterior e para situações internacionais para justificar a grave situação social e econômica pela qual o país está passando, com mais de 40% da população vivendo abaixo da linha da pobreza e a inflação anual atingindo um recorde histórico de mais de 102%.
“Recebemos em 2019 um país endividado, em recessão, com alta pobreza e inflação e tivemos de enfrentar uma pandemia global, uma guerra e, atualmente, as consequências de uma seca brutal”, disse Fernández que destacou ainda que durante esse período, até 10 de dezembro, concentrará seu “esforço, compromisso e coração na solução dos problemas dos argentinos”.
Sob pressão
O anúncio do presidente foi feito em meio a uma pressão no câmbio muito forte que fez com que o preço do dólar ilegal disparasse e tivesse um impacto sobre a taxa de câmbio oficial e, acima de tudo, aumentasse ainda mais os preços no mercado interno. No entanto, a fala de Fernández não conseguiu conter a especulação dos setores concentrados da economia, que continuaram a pressionar o mercado ilegal, que nesta semana atingiu um novo recorde histórico de 497 pesos o dólar.
A resposta do governo foi a confirmação do presidente do Banco Central e uma acusação feita pelo próprio Fernández contra a direita argentina pela instabilidade no mercado de câmbio. “Eles criam rumores pela manhã, operam o dia todo e retiram sua lucratividade à tarde, prejudicando assim as economias dos argentinos”, advertiu.
Na área econômica, o ministro da Economia, Sergio Massa, anunciou que a Argentina ativará a cláusula de swap que tem com a China, que permite que o país deixe de pagar as importações em dólares e passe a fazê-lo em yuans, por um valor superior a US$ 1 bilhão. O objetivo é descomprimir as pressões da taxa de câmbio e proteger as reservas já escassas do Banco Central.
“Vamos usar todas as ferramentas do Estado para colocar ordem nessa situação”, disse o ministro, que informou que o FMI havia sido notificado sobre as novas “restrições à Argentina para uma rediscussão do programa” de pagamentos já acordado.
Por outro lado, em nível político, as repercussões do anúncio do presidente mobilizaram os debates no peronismo, o principal partido da aliança de governo, que convocou uma reunião extraordinária para apressar uma candidatura de consenso, onde o peso do poder da ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner é claro, mas não decisivo, ainda mais com o processo judicial por atos de corrupção que a desqualificou para ocupar cargos públicos e que, no momento, a deixa fora de qualquer disputa eleitoral.
Edição: Jaqueline Deister