Bilhões de pessoas em todo o mundo tiveram as rotinas afetadas na última segunda-feira (4) pela queda das plataformas virtuais Facebook, Instagram e Whatsapp. A pane global durou cerca de seis horas e os transtornos causados a usuários, empresas e à sociedade de modo geral reacenderam o debate em torno do monopólio das chamadas big techs na internet.
O “apagão” de três das maiores redes sociais do mundo foi o assunto mais comentado ao longo da segunda-feira no Twitter, plataforma que se manteve online e foi usada inclusive pelo Facebook para atualizar os usuários sobre a situação. Por volta das 19h30, a empresa de Mark Zuckerberg publicou uma mensagem pedindo desculpas aos usuários e informando sobre a retomada dos serviços:
“Para todos que foram afetados pela interrupção das nossas plataformas hoje: sentimos muito. Sabemos que bilhões de pessoas e negócios em todo o mundo dependem de nossos produtos e serviços para permanecer conectados. Agradecemos sua paciência”, disse a empresa.
To the huge community of people and businesses around the world who depend on us: we're sorry. We’ve been working hard to restore access to our apps and services and are happy to report they are coming back online now. Thank you for bearing with us.
— Meta (@Meta) October 4, 2021
Concentração
Entre reclamações e memes, as reações à queda das plataformas também incluíram críticas à concentração de poder assumida pelas gigantes da tecnologia. Pelo Twitter, o ex-agente da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), Edward Snowden, defendeu a criação de uma nova regulação para as plataformas de redes sociais:
“Facebook, WhatsApp e Instagram caindo ao mesmo tempo com certeza parece um exemplo de fácil compreensão e publicamente popular de por que dividir um certo monopólio em pelo menos três partes pode não ser uma má ideia”, afirmou o ex-agente lembrando que as três plataformas pertencem a uma única empresa.
Facebook, WhatsApp, and Instagram all going down at the same time sure seems like an easily-understandable and publicly-popular example of why breaking up a certain monopoly into at least three pieces might not be a bad idea.
Somebody should tell Elizabeth Warren.
— Edward Snowden (@Snowden) October 4, 2021
O pesquisador e professor da Faculdade de Computação da Universidade Federal do Pará (UFPA), Felipe Saraiva, também usou as redes para ressaltar que a dependência do funcionamento das plataformas em escala global não se justifica por questões tencológicas, mas políticas.
O que tornou a internet centralizada hoje foi a adoção massiva, apolítica e acrítica das *soluções* das big techs, entregando nossos dados para elas.
Traduzindo, é um problema político, não tecnológico.
— Filipe Saraiva (@filipesaraiva) October 4, 2021
Entusiasta do uso de softwares livres, Saraiva também comentou sobre a opção de escolas e universidades que abriram mão de desenvolver sistemas próprios de ensino online para confiar o serviço às big techs. De acordo com o professor:
“Toda instituição de ensino que entregou seu serviço de comunicação para uma big tech fez uma escolha política. Toda empresa que relegou seu site para alimentar só redes sociais fez uma escolha política. Não precisamos de mais código aqui para trabalhar essa questão”, comentou no Twitter.
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Ainda sobre o impacto da concentração das redes na educação, a Iniciativa Educação Aberta, organização ligada à Cátedra UNESCO em Educação a Distância e ao Instituto Educadigital, alertou sobre a vulnerabilidade das universidades e institutos públicos de ensino diante das grandes empresas de tecnologia:
Se o Google e a Microsoft saírem do ar, nossas instituições públicas de ensino superior (quase 80% delas que dependem dessas plataformas) não podem mais exercer sua atividade fim – educar. #educacaovigiadahttps://t.co/CSyfKJx741 https://t.co/NMEEtGIkqG
— Iniciativa Educação Aberta (@iniciativaea) October 4, 2021
Também pelo Twitter, a advogada especializada em telecomunicações e integrante do Coletivo Intervozes, Flávia Lefèvre, destacou que a pane global do Facebook expõe ainda outra questão cara à população brasileira: o acesso restrito e limitado à internet.
É bom lembrar que aqui no tem uns 75 milhões de brasileiros que não tem opção. Estão presos nos planos de franquia associados a tarifa zero do Facebook e WhatsApp https://t.co/pI0kP07xgy
— Flávia Lefèvre (@flavialefevre) October 5, 2021
O Zero Rating é uma prática realizada pelas operadoras e empresas de tecnologia que permite o acesso “gratuito” a determinados serviços online, especialmente aplicativos de redes sociais.
No Brasil, onde a maioria das pessoas pobres acessam a internet através de dispositivos móveis, utilizando planos pré-pagos e com limites de dados, os únicos acessos ilimitados são ao Facebook e ao WhatsApp. Segundo Lefèvre, a situação “se repete em muitos países da América Latina”.
Falha
Ainda segundo o Facebook a interrupção foi causada por erro de DNS, sigla que signifca Domain Name System (Sistema de Nomes de Domínios). O sistema funciona como uma espécie de GPS da internet e é responsável por associar números de IP a nomes de domínios. Ou seja, é graças ao DNS que um usuário pode acessar uma página digitando seu endereço, por exemplo, www.agenciapulsarbrasil.org, ao invés de um código de números e pontos. A falha no DNS, portanto, faz com que uma página fique indisponível porque impossibilita que o sistema encontre a rota para acessá-la.
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Em apenas um dia, o apagão do Facebook gerou um prejuízo de quase seis bilhões de dólares ao programador e empresário Mark Zuckerberg. Com a queda nas ações da companhia, o estadunidense perdeu o posto de quarto mais rico do mundo.
Edição: Jaqueline Deister