

Povos indígenas da província de Jujuy se dirigiram, esta semana, até a cidade de Buenos Aires no que designaram como “Terceiro Malón da Paz”. Na capital, os indígenas se manifestaram em defesa de seus territórios, recursos naturais e contra a reforma constitucional promovida pelo governador Gerardo Morales, atual candidato a vice-presidente da principal aliança de direita do país, Juntos por el Cambio (JxC).
O motivo central da mobilização foi exigir que a Corte Suprema de Justiça se pronuncie sobre a inconstitucionalidade da reforma de Morales e tome medidas para a intervenção federal na província diante da violência institucional, da perseguição e da detenção irregular de manifestantes. Além disso, os indígenas exigem que o Congresso Nacional aprove uma “Lei de Propriedade Comunitária Indígena”.
A caravana indígena partiu no dia 25 de julho e percorreu cerca de 1500 quilômetros da Quebrada de Humahuaca, no norte de Jujuy, fronteira com a Bolívia, passando por Salta, Tucumán, Catamarca, Santiago del Estero, Córdoba e Rosário, até chegar à capital federal argentina.
A marcha é uma reencenação do histórico “Malón de la Paz”, realizado em 1946 na luta pela recuperação de seus territórios. O segundo foi em 2006, 60 anos depois, e foi organizado para exigir que o governo de Jujuy cumprisse uma ordem judicial que devolveu quase 15 mil quilômetros quadrados de terra às comunidades indígenas.
Hoje, o “Terceiro Malón” ocorre em meio a grandes protestos, bloqueios de estradas e mobilizações que o povo de Jujuy vem realizando há mais de 40 dias em rejeição à reforma constitucional de Morales. Segundo organizações sociais, a reforma não só limita direitos trabalhistas e sociais, como também faz avançar um quadro jurídico que favorece interesses de empresas transnacionais ligadas à extração dos recursos naturais do país.
Leia também: Protestos contra reforma constitucional em Jujuy continuam mesmo após repressão violenta
Perante a significativa rejeição popular, a resposta do governador Gerardo Morales foi intensificar as políticas repressivas, a perseguição policial e a instauração de processos judiciais contra manifestantes. Tudo isso sem descuidar da sua campanha para a vice-presidência pela mais importante coligação de direita do país.
A grave situação institucional foi denunciada por organizações de defesa dos direitos humanos do país e teve repercussões em nível internacional. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), por exemplo, expressou sua preocupação com a repressão aos manifestantes em Jujuy e com alguns pontos da reforma constitucional aprovada pela província.
Edição: Filipe Cabral