Uma família de ambientalistas foi encontrada morta a tiros no último domingo (9) na zona rural de São Félix do Xingu, município do sudeste do Pará.
José Gomes, popularmente conhecido como Zé do Lago, a esposa Márcia Nunes Lisboa e a filha do casal, Joene Nunes Lisboa, viviam às margens do Rio Xingu, na Ilha da Cachoeira do Mucura, onde desenvolviam um projeto de manejo e preservação de tartarugas e tracajás.
De acordo com a Polícia Civil do Pará, a suspeita é de que o crime tenha sido cometido por pistoleiros da região. No entanto, as possíveis motivações e os autores do triplo homicídio ainda não foram identificados.
Ainda segundo a polícia, os corpos dos ambientalistas foram encontrados próximos à residência da família e já em estado de decomposição, o que, para as equipes de investigação, indica que o crime tenha ocorrido cerca de três dias antes. Ao todo, 18 cápsulas de arma de fogo foram recolhidas no local. O caso está sob responsabilidade da Divisão de Homicídios de Marabá e do Núcleo de Apoio à Investigação de Redenção, ambos municípios do sudeste paraense.
Impunidade
Na última segunda-feira (10), dia seguinte ao que os corpos dos ambientalistas foram encontrados, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) enviou um ofício à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará solicitando a apuração do crime.
Nas redes sociais, o presidente da Comissão, deputado Carlos Bordalo (PT), publicou imagens do trabalho desenvolvido pela família no Rio Xingu e informou que está acompanhando o caso.
Recebi este vídeo em que mostra a família de ambientalistas soltando os filhotes de quelônios, projeto que eles desenvolviam. O pai, conhecido como Zé do Lago, a esposa Márcia Lisboa e a filha Joane foram assassinados na comunidade em que moravam em São Felix do Xingu. Revoltante pic.twitter.com/YsVnoZHJaM
— Bordalo 1️⃣3️⃣1️⃣3️⃣0️⃣ (@bordalopt) January 11, 2022
Na terça-feira (11), foi a vez da Anistia Internacional emitir uma nota cobrando das autoridades públicas que o caso seja elucidado o quanto antes e que os responsáveis pelos homicídios sejam “identificados e responsabilizados de maneira célere e efetiva”. A organização ainda ressalta que: “O Estado brasileiro possui a obrigação de agir para conter a onda de violência e o ciclo de impunidade que se perpetuam na região amazônica e em todo o território nacional”.
Em outro trecho da nota, a Anistia lembra que, de acordo com levantamento da Global Witness, Organização Não Governamental (ONG) internacional de direitos humanos e ambientais, “o Brasil é o quarto país que mais mata pessoas engajadas em causas ambientais, a maior parte delas vitimada na Amazônia”.
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O texto também destaca que “os discursos e as práticas das autoridades públicas, quando culpabilizam, criminalizam e perseguem defensores de direitos humanos, ambientalistas, lideranças indígenas e comunidades que se organizam em defesa do meio ambiente e de seus territórios, fomentam ataques como os assassinatos ocorridos em São Félix do Xingu”.
Histórico de violência
Com o assassinato de Zé do Lago, Márcia e Joene, chega a quatro o número de ambientalistas mortos na Amazônia em 2022. No dia 8 de janeiro, o quilombola José Francisco Lopes Rodrigues faleceu vítima de um atentado a tiros ocorrido cinco dias antes na comunidade Cedro, em Arari, município maranhense localizado a aproximadamente 170 quilômetros da capital São Luís.
“Quiqui”, como era conhecido, foi baleado dentro da própria casa junto com a neta de 10 anos que, embora também atingida, não corre risco de morte. Os autores do crime não foram identificados até o momento.
Outra cidade que acumula casos de atentados contra defensores dos direitos humanos e ambientalistas é Nova Ipixuna. Em 2011, o casal de agricultores José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foi assassinado dentro do assentamento agroextrativista Praialta-Pinheira, no município que também fica no sudeste do Pará.
Edição: Jaqueline Deister