Redação
Mais de trinta pessoas, entre professores e estudantes, foram mortas em ataques ocorridos em escolas brasileiras nos últimos vinte anos.
De acordo com levantamento do Instituto Sou da Paz, até dezembro de 2022 haviam sido registrados 12 ataques em todo país, resultando em 31 vítimas fatais e 62 feridos. Nesta segunda-feira (27), com o ataque à Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo (SP), no qual uma professora de 71 anos foi morta a facadas, o número de atentados com armas em escolas brasileiras chega a 16, conforme contagem da CNN.
Segundo informações do Estado de S. Paulo, um outro relatório, que teria sido entregue à equipe de transição do governo federal em dezembro de 2022, indica que, até aquele ano, os ataques em escolas já teriam resultado em 35 mortes e 72 feridos. O documento aponta que todos os ataques teriam sido praticados por alunos ou ex-alunos e que “são normalmente associados ao bullying e situações prolongadas de exposição a processos violentos, incluindo negligências familiares, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e aplicativos de trocas de mensagem”.
O episódio com o maior número de vítimas ocorreu em 2011 e ficou conhecido como o Massacre de Realengo. Na ocasião, 12 pessoas morreram após um ex-aluno atirar em jovens na Escola Municipal Tasso da Silveira, na Zona Oeste do Rio. Em outro ato violento, em março de 2019, dois ex-alunos entraram na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, e mataram 10 pessoas, incluindo cinco estudantes e duas funcionárias da instituição de ensino. Os autores se suicidaram após a tragédia.
Em um dos casos mais recentes, em novembro do ano passado, um jovem de 16 anos invadiu duas escolas na cidade de Aracruz (ES) e atirou em alunos e professores, matando três pessoas e ferindo outras 13. Na ocasião, o assassino usava uma suástica e, segundo a polícia, era “simpatizante de ideias nazistas”.
Só neste ano, dois ataques foram impedidos pela polícia. No primeiro, em janeiro, um adolescente de 17 anos foi apreendido após jogar bombas de fabricação caseira contra uma escola de Monte Mor, interior de São Paulo. Assim como no episódio em Aracruz, o autor carregava uma suástica no braço.
O segundo caso ocorreu na última sexta-feira (24), quando um aluno de 17 anos foi apreendido enquanto planejava um atentado contra alunos e professores de uma escola do centro do Rio de Janeiro. Ele foi apreendido, dentro da própria escola, após aviso da Interpol.
São Paulo
Na manhã desta segunda-feira, um adolescente de 13 anos matou uma professora a facadas e feriu pelo menos outras quatro pessoas na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo.
A professora de biologia Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, morreu após ser atingida nas costas e na cabeça. Ela chegou a ser socorrida, mas teve uma parada cardíaca e não resistiu. O ataque foi registrado por câmeras de segurança da sala de aula.
Além de Beth – como era conhecida entre os colegas – outras três educadoras e um alunos se feriram e foram encaminhados a hospitais, sem risco de morte. O autor do ataque foi apreendido ainda no pátio da escola e o caso foi registrado no 34º Distrito Policial (Vila Sônia).
De acordo com a polícia, no celular do adolescente, foram encontradas informações de ataques em outras escolas no país, o que indica que o crime foi planejado. Segundo relatos colhidos pela Agência Brasil, o jovem responsável pelos ataques discutiu com outro estudante na última semana e chegou a ofendê-lo com ofensas racistas. Desde então, ele teria afirmado que faria um massacre na escola.
Reações
Em publicação nas redes sociais, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que recebeu com “muito pesar e tristeza” a notícia da morte da professora Elisabete Tenreiro.
“Não tenho palavras para expressar a minha tristeza com a notícia do ataque a alunos e professores da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia. O adolescente de 13 anos já foi apreendido e nossos esforços estão concentrados em socorrer os feridos e acolher os familiares”, escreveu o governador.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também se manifestou sobre o atentado, que classificou como “tragédia”.
“Uma tragédia que nos deixa sem palavras para expressar a tristeza do ocorrido na Escola Estadual, na Vila Sônia. As forças de segurança pública e de saúde agiram imediatamente, e continuaremos oferecendo todo o suporte necessário às vítimas e suas famílias” publicou.
O ministro da Educação, Camilo Santana, também se pronunciou sobre o caso e disse que o MEC está “à disposição da Secretaria de Educação e do Governo do Estado [de São Paulo] para colaborar no que for possível”.
Em nota, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) afirmou que o novo episódio de violência expõe o abandono das escolas estaduais paulistas.
“Faltam funcionários nas escolas, o policiamento no entorno das unidades escolares é deficiente e, sobretudo, não existem políticas de prevenção que envolvam a comunidade escolar para a conscientização sobre o problema e a busca de soluções”, denuncia o texto assinado pela presidente do sindicato e deputada estadual, Professora Bebel (PT).
*com informações da Agência Brasil, CNN, Estado de S. Paulo, G1 e Uol