Na última terça-feira (17), o Ministério Público Federal (MPF) ofereceu uma denúncia contra o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos por crime de ameaça e incitação contra o ministro Luis Roberto Barroso.
Santos utilizou o seu canal no Youtube “Terça-Livre” para desafiar o magistrado a enfrentá-lo pessoalmente. O blogueiro assegurou na ocasião que seria capaz de fazer mal a Barroso se ambos tivessem contato fora dos meios digitais. Para o MPF, o caso superou os limites do razoável na livre expressão de pensamento e opinião e intimidou a vítima com a promessa de mal injusto.
O crime aconteceu em 24 de novembro do ano passado. No vídeo intitulado “Barroso é Um Miliciano Digital”, Santos profere palavras de ódio, baixo calão e em tom claramente ameaçador, afirmando: “Tira o digital, se você tem culhão! Tira a p**** do digital, e cresce! Dá nome aos bois! De uma vez por todas Barroso, vira homem! Tira a p**** do digital! E bota só terrorista! Pra você ver o que a gente faz com você. Tá na hora de falar grosso nessa p****!”. Ao tomar conhecimento dos fatos, o próprio ministro do Supremo, na condição de vítima, representou ao MP, solicitando a adoção de medidas cabíveis.
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De acordo com o MPF, a denúncia aponta que as declarações de Allan Santos “estão excluídas do âmbito de cobertura da liberdade de expressão, porquanto configuram proibições expressas dispostas no direito internacional dos direitos humanos”. O marco jurídico internacional do qual o Brasil é signatário aponta que a incitação à violência e ao crime devem ser proíbidas a fim de manter a ordem pública e democrática.
Na ação enviada ao Juizado Especial Criminal Federal, o MPF reúne diversos tuítes e publicações veiculadas em plataformas de redes sociais. “Foi identificado um comportamento habitual e intencional do denunciado em proferir ameaças contra ministros do STF”. Nesse sentido, a conduta não está inserida em um contexto isolado, mas denota “parte de uma campanha intencional e extensiva do denunciado para disseminar ódio contra os magistrados da Suprema Corte”, alertam os investigadores.
Na denúncia, o MPF observa que a própria natureza inerente às redes sociais – o poder de alcançar grandes massas populacionais – torna as declarações investigadas ainda mais perigosas. Segundo o órgão, nesse ambiente, as falas ganham forma de incentivo público, direcionadas a pessoas indeterminadas em verdadeiro contexto de incitação ao crime.
Em julho deste ano, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) determinou a remoção pelo Google e Youtube do canal “Terça Livre”, por incitação à violência.