Redação
A cultura brasileira está de luto. O país perdeu nesta quinta-feira (6) uma das maiores referências da dramaturgia nacional: José Celso Martinez Corrêa. O diretor de teatro que traduziu o tropicalismo para os palcos morreu aos 86 anos na cidade de São Paulo.
Zé Celso estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas desde terça-feira (4), após ter mais de 50% do seu corpo queimado durante um incêndio ocorrido no apartamento onde morava no bairro Paraíso, na zona sul paulistana. A suspeita até o momento é que as chamas foram causadas por um problema no aquecedor elétrico que ficava no quarto do criador do Teatro Oficina.
O quadro do diretor piorou na quarta-feira (5). O ator desenvolveu uma insuficiência renal e passou a não responder mais ao tratamento. Na manhã desta quinta-feira (6), o dramaturgo teve falência dos órgãos e morreu.
Além de Zé Celso, estavam no apartamento o seu marido Marcelo Drummond e os atores Victor Rosa e Ricardo Bittencourt. Eles não sofreram queimaduras, mas foram encaminhados ao hospital por terem inalado muita fumaça durante o incêndio. Segundo O Globo, o diretor foi retirado do quarto por Victor já com muitas queimaduras pelo corpo.
O revolucionário Zé Celso
Os primeiros passos de Zé Celso no teatro ocorreram no final da década de 1950. Cursou Direito na Universidade de São Paulo (USP), mas não concluiu a graduação, contudo, foi por este terreno que começou a mostrar a sua veia artística de inquietude e irreverência, ao liderar a companhia Teatro Oficina Uzyna Uzona, criada junto ao Centro Acadêmico XI de Agosto. Os primeiros enredos encenados foram: Vento Forte para Papagaio Subir (1958) e A Incubadeira (1959). Mais recentemente, retomou peças famosas no teatro, como As Bacantes (1996) e Roda Viva (1968).
Em 1961, já em processo de profissionalização, o grupo aluga a sede do Teatro Novos Comediantes, tendo como fundadores, além de Zé Celso, Amir Haddad, Renato Borghi, Ítala Nandi e Etty Fraser (1931-2018). Neste período, a companhia obtém repercussão montando textos como Pequenos burgueses (1963), do russo Máximo Gorki (1868-1936), com influências do método Stanislavski. Com o golpe civil-militar no ano seguinte, a peça é censurada e obrigada fazer cortes.
A idade não foi empecilho para Zé Celso continuar ousando em cena e na telas. Em 2007 participou do filme Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins (1936-2020). Num caso mais recente, sua peça Os Sertões, quando montada em 2005 em Berlim, na Alemanha, causou polêmica pelo fato dos atores ficarem nus em determinadas cenas. A imprensa alemã apelidou a montagem de “teatro pornô”.
O amigo e também um dos idealizadores do Teatro Oficina, o teatrólogo Amir Haddad, comentou em suas redes sociais sobre a morte de Zé Celso e destacou que neste momento de morte, o importante é “afirmar as nossas vidas”.
“Fará muita falta Zé Celso. Fica um buraco agora. O teatro brasileiro não tem peça de reposição para Zé Celso. A vida cultural brasileira que o produziu não produz mais pessoas dessa qualidade. Espero que a gente continue semeando o novo, como Zé Celso fazia e que essas sementes frutifiquem”, escreveu o diretor do Grupo Tá na Rua.
*Com informações do Brasil de Fato, O Globo e Folha de São Paulo