A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apresentou, na última segunda-feira (29), as 30 candidaturas que compõem a Bancada Indígena nas eleições de 2022. A iniciativa envolve, ao todo, representantes de 31 povos indígenas de todas as regiões do país. De acordo com a articulação, esta é a primeira vez na história do Brasil que os povos indígenas disputam as eleições gerais de forma coordenada a partir de indicações de suas organizações de base.
Serão 12 candidaturas para o cargo de de deputado federal e 18 a cadeiras em Assembleias, abrangendo, no total, vinte estados da Federação. A maioria das candidaturas, porém, está concentrada nos estados que integram a Amazônia Legal e tiveram a indicação da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Além da Coiab, outras organizações indígenas de base indicaram seus representantes. São elas: o Conselho do Povo Terena, a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), a Grande Assembléia do povo Guarani (Aty Guasu), a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), a Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (Arpin sudeste) e a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpin Sul).
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De acordo com a Apib, todas as candidatas e candidatos da “Bancada Indígena” são apoiados pela Campanha Indígena 2022, um projeto que tem como objetivos a formação, articulação e construção de estratégias de luta política para que lideranças indígenas ocupem espaços de decisão e representatividade na sociedade brasileira. Ainda segundo a Apib, a contribuição da campanha tem se dado através de suporte jurídico e e apoio em relação à divulgação, estratégia e comunicação visual das candidaturas.
“Nossa expectativa é que estes atores possam vir a ser agentes de mudança, dentro e fora da política institucional, com ênfase na representatividade e na diversidade no que tange a construção do nosso país”, explica a Articulação.
Confira a lista completa de candidaturas na página da Campanha Indígena.
Histórico
Segundo a Apib, as Eleições 2022 “já figuram como um marco histórico para os povos originários” pois apresentam o maior número de candidatos autodeclarados indígenas desde 2014, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a registrar a classificação de raça. São 182 até o momento, com 108 candidaturas a deputado estadual, duas a deputado distrital e 58 a deputado estadual. Também foram registradas quatro candidaturas indígenas ao Senado, quatro como vice-governador, duas como governador – caso dos estados do Amazonas e Bahia – e uma candidatura à vice-presidência, de Raquel Tremembé (PSTU).
Em 2018, foram 113 candidaturas indígenas iniciais registradas pelo TSE. Já em 2020, mais de 2.000 indígenas concorreram às eleições municipais e 200 representantes foram eleitos — entre eles 10 prefeitos e 44 vereadoras.
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Ainda sobre as candidaturas indígenas em 2022, a Apib observa o número de representantes femininas quase triplicou em duas eleições, passando de 29 em 2014 para 85 em 2022. Inclusive, das 30 candidaturas que compõem a Bancada Indígena, 16 são de mulheres.
De acordo com o Censo de 2010, o último realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 897 mil indígenas, de 305 povos e com 274 línguas diferentes, o que equivale a 0,5% da população brasileira.
Segundo a Apib, o primeiro indígena eleito no Brasil foi Manoel dos Santos, seu Coco, do povo Karipuna. Em 1969 ele ocupou o cargo de vereador na cidade de Oiapoque, no Amapá. Em 1982, seis anos após o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal, foi a vez de Mário Juruna se eleger deputado federa pelo PDT.
Nas últimas eleições gerais, em 2018, a então coordenadora executiva da Apib, Sonia Guajajara, foi candidata ao cargo de vice-presidente pelo PSOL e Joenia Wapichana (REDE) se tornou a primeira mulher indígena a assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Edição: Jaqueline Deister