Redação
Três homens suspeitos de participar do assassinato da líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, foram presos na Bahia. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (4) pelo secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner.
A ialorixá foi morta a tiros no dia 17 de agosto dentro do território do Quilombo Pitanga dos Palmares, na casa que servia de sede para a associação de quilombolas no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador.
Mãe Bernadete estava acompanhada por três netos quando dois homens invadiram a casa usando capacetes e abordaram a família. Os assassinos trancaram os netos – um de 22 anos e outros dois de 13 e 12 – no quarto e, em seguida, dispararam contra a líder do quilombo.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) da Bahia, um dos suspeitos, preso na cidade de Araçás (a 105 km de Salvador) teria confessado à política ter sido um dos executores do crime.
Os outros dois, presos no próprio município de Simões Filho, teriam participado de forma indireta. Um estava com o celular de Mãe Bernadete e outro guardava as armas supostamente usadas no crime. De acordo com a polícia, as armas são compatíveis com os projéteis identificados no local e estão sob análise da perícia técnica.
Investigação
Ainda de acordo com a SSP, a motivação do crime ainda não foi confirmada. A secretaria informou que, até esta segunda-feira, mais de 60 pessoas prestaram depoimentos, entre familiares, testemunhas e os três suspeitos de envolvimento no crime. Pelo menos mais um suspeito, que seria o segundo executor do crime, continua foragido.
Segundo a polícia, imagens das câmeras de vigilância instaladas no quilombo foram encaminhadas à perícia, mas o laudo ainda não foi divulgado.
Além da Polícia Civil, o Ministério Público, o Poder Judiciário da Bahia e a Polícia Federal também acompanham o caso.
De acordo com familiares, há pelo menos dois meses Mãe Bernadete sofria ameaças. Em julho, a líder quilombola chegou a relatar a situação à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, durante encontro na comunidade Quingoma, na cidade de Lauro de Freitas (BA).
Em 2017, o filho de Bernadete, Flávio Gabriel Pacifico dos Santos – o Binho do Quilombo – também foi assassinado a tiros dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares. Desde então a líder quilombola fazia parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do governo federal, por meio da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia.
Quilombolas
O Quilombo Pitanga dos Palmares é formado por cerca de 289 famílias que vivem de artesanato, agricultura de subsistência e criação de animais. Segundo moradores, o assassinato de Mãe Bernadete instalou um clima de medo no local.
Com um território de 854,2 hectares, o Quilombo Pitanga dos Palmares foi reconhecido em 2017 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas até hoje não teve o processo de titulação do quilombo concluído pelo governo federal.
De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), nos últimos 10 anos pelo menos 30 quilombolas foram assassinados no Brasil. “A maioria das vítimas era liderança e grande parte dos assassinatos aconteceram dentro dos quilombos e com uso de armas de fogo, sem que as vítimas tivessem chance de defesa”, pontua a coordenação.
Ainda segundo os dados da Conaq, as 30 mortes aconteceram nos estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Maranhão, Pará, Minas Gerais e Alagoas. Os estados que mais somam execuções são Bahia (11), Maranhão (8) e Pará (4).
*Com informações da Conaq, Folha de S. Paulo e G1
Edição: Jaqueline Deister