Após quase um mês de chuvas intensas, as mais de 660 mil pessoas atingidas pelas enchentes na Bahia podem, enfim, começar a reconstruir suas vidas.
Conforme balanço divulgado no último domingo (2) pelo governo baiano, 32.594 pessoas seguem desabrigadas no estado, contudo, com a trégua da chuva nos primeiros dias de 2022 e a diminuição do nível dos rios, o número de pessoas que perderam seus imóveis e precisam de apoio do poder público tem reduzido gradativamente.
Além disso, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) informou que todos os 59 sistemas de água afetados pelas chuvas foram reabilitados e que o abastecimento de água será completamente retomado nos próximos dias.
A preocupação com novos temporais, no entanto, mudou apenas de estado. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) 136 municípios de Minas Gerais estão sob risco de grandes alagamentos, transbordamentos de rios e deslizamentos de encostas nos próximos dias. Em aviso publicado nesta segunda-feira (3), o instituto prevê chuvas intensas de mais de 60 milímetros por hora ou mais de 100 milímetros por dia.
Conforme o Inmet, as principais áreas afetadas seriam: a Central Mineira, a Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, as regiões Oeste e Noroeste de Minas.
De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais, desde outubro de 2021 as chuvas no estado causaram seis mortes, e expulsaram mais de 15 mil pessoas de suas casas.
Na Bahia, as chuvas provocaram a morte de 25 pessoas e 517 ficaram feridas, segundo dados Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec).
Apoio
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), até o momento o Governo Federal teria repassado um total de R$ 32,1 milhões ao governo da Bahia para ações de respostas ao desastre natural.
Além disso, segundo a Secretaria-Geral da Presidência, R$ 700 milhões teriam sido destinados para o “enfrentamento das consequências das fortes chuvas que acometeram diversas regiões do Brasil” através de medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda em dezembro.
Contudo, na última quinta-feira (30) o governador da Bahia, Rui Costa (PT), informou que o custo para reconstruir as estruturas destruídas pelas chuvas no estado pode chegar a R$ 2 bilhões.
Segundo ele, o valor corresponderia aos investimentos necessários para recuperar casas, rodovias e para arcar com o custo social de moradores e comerciantes que perderam móveis, eletrodomésticos e mercadorias.
Impasse
Desde os primeiros dias da tragédia o goverandor tem criticado a postura adotada pelo presidente da República em relação aos municípios atingidos. O último episódio do impasse entre as esferas estadual e federal ocorreu na última semana, após a recusa de Bolsonaro à oferta de auxílio feita pelo governo argentino.
Na ocasião, o presidente avaliou que o envio de profissionais da “Comissão dos Capacetes Brancos”, grupo especializado em assistência a vítimas de desastres, não seria necessário pois, segundo ele, o serviço que tem sido prestado pelas Forças Armadas e a Defesa Civil seria suficiente. Nas redes sociais, Bolsonaro complementou dizendo que a ajuda argentina “poderá ser acionada oportunamente, em caso de agravamento das condições”.
Em resposta, também pelas redes sociais, Rui Costa afirmou que “a Bahia aceitará diretamente, sem precisar passar pela diplomacia brasileira, qualquer tipo de ajuda neste momento”.
A declaração do petista foi rebatida no mesmo dia pelo presidente que, junto do ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, confirmou que qualquer colaboração da Argentina só poderá ser prestada com aprovação do governo federal.
Solidariedade
Além dos governos e corporações como o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, desde o início das chuvas na Bahia e Minas movimentos e organizações sociais têm realizado campanhas e organizado redes de apoio às famílias atingidas pelas enchentes.
A ONG Ação da Cidadania, por exemplo, informou que só no último mês foram distribuídas 200 toneladas de alimentos e 50 mil litros de água para as vítimas na Bahia, além de roupas e colchões. Já a Central Única das Favelas (CUFA), em parceria com a Frente Nacional Antirracista (FNA), anunciou que 600 mil cestas básicas serão distribuídas em janeiro para as famílias atingidas pelas chuvas.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também tem prestado apoio às populações atingidas em diversos municípios com ações que vão desde a distribuição de refeições e roupas em abrigos públicos até o acompanhamento médico, a limpeza de casas e o transporte de móveis e eletrodomésticos recuperados.
Embora as chuvas tenham diminuído, tanto a Ação da Cidadania e a CUFA como o MST seguem em 2022 com as campanhas de apoio às vítimas. As informações para doações estão disponíveis nos perfis das organizações nas redes sociais.
Edição: Jaqueline Deister