Desde outubro de 2021 as fortes chuvas no estado de Minas Gerais têm provocado enchentes, alagamentos, interdição de estradas e até mesmo a morte de pessoas.
De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, só nas últimas 24h foram registradas 10 mortes provocadas por consequências das chuvas. Com isso, o número total de mortes chega a 19, sendo 13 ocorridas em 2022.
As vítimas registradas esta semana são das cidades de Dores de Guanhães e Caratinga, no Vale do Rio Doce; São Gonçalo do Rio Abaixo, na região central de Minas Gerais; Ervália, na zona da mata mineira e Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo informações da Defesa Civil, 145 municípios mineiros estão em situação de emergência e mais de 17 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Entre as regiões mais afetadas pelas enchentes estão o centro e o sul de Minas Gerais e a região metropolitana de Belo Horizonte. Em Raposo, por exemplo, cidade da Grande Belo Horizonte, cerca de nove mil pessoas – mais da metade da população – se encontra desabrigada.
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Em balanço divulgado nesta terça-feira (11), o Comando de Policiamento Rodoviário (CPRv), da Polícia Militar de Minas Gerais (PM-MG) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informaram que, até o início do dia, 112 rodovias federais e estaduais apresentavam algum tipo de bloqueio devido a ocorrências provocadas pelas chuvas, com 82 pontos de interdição parcial e 30 de interdição total.
As fortes chuvas no estado, contudo, devem persistir ainda pelos próximos dias, conforme apontam os dados do Instituto Nacional de Meterologia (Inmet). De acordo com o instituto, cidades do centro, oeste, sul, sudoeste, norte e noroeste de Minas seguem sujeitas a temporais, assim como municípios do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e da região próxima à capital.
Barragens
Nesta semana, preocupado com o risco de novos desastres socioambientais como os ocorridos em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), o governo de Minas Gerais em parceria com o Ministério Público Federal (MPF) e Estadual (MPE), enviou uma solicitação a todas as mineradoras que operam barragens em situação de risco no Estado para que apresentem informações adicionais de segurança. Segundo o governo, ao todo, 31 unidades apresentam alguma situação de risco na região.
Na última segunda-feira (10) a mineradora Vale S.A. informou que as atividades no Sistema Sudeste e Sul da empresa foram paralisadas. No primeiro caso, foi interrompida a produção nas minas do complexo Mariana e Brucutu. Já no Sistema Sul, a produção de todos os complexos da empresa foi paralisada em função da interdição das rodovia BR-040 e MG-030. Ainda segundo a Vale, o Sistema Norte da mineradora não foi afetado e segue em operação.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) também informou ter suspendido a operação da mina Casa de Pedra, localizada no município de Congonhas, a 100 quilômetros de Belo Horizonte. De acordo com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a barragem Casa de Pedra é considerada a maior em área urbana da América Latina e acumula 103 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério. O MAB ainda alerta que mais de cinco mil pessoas vivem em bairros que estão abaixo do nível da barragem.
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No último domingo (9), a prefeitura de Pará de Minas, município que fica a 85 quilômetros a oeste da capital mineira, chegou a emitir um alerta máximo por risco de rompimento da barragem da Usina do Carioca, que faz parte da Usina Santanense. De acordo com a Defesa Civil do município, a estrutura apresentava alto risco de rompimento e, além de Pará de Minas, poderia atingir também as cidades de Pitangui, Onça de Pitangui, São João de Cima, Casquilho de Baixo, Casquilho de Cima e Conceição do Pará. Em comunicado emitido ainda no domingo, o 10° Batalhão do Corpo de Bombeiros da região orientou a população local a deixar suas casas imediatamente.
Um dia antes, na manhã de sábado (8), um dique da Mina de água Pau Branco, da mineradora Vallourec, se rompeu em Nova Lima, a 22 quilômetros da capital mineira. O desastre provocou a inundação e interdição da BR-040. Contudo, segundo o Corpo de Bombeiros a barragem continha apenas água e restos de lama e não houve registro de mortes. Após o transbordamento do dique, as atividades da Vallourec em Nova Lima foram temporariamente interrompidas por ordem da Justiça de Minas Gerais.
SÁBADO DE SUFOCO EM MINAS
A estrutura de drenagem da barragem da Mina Pau Branco, em Nova Lima, Grande BH, transborda e causa inundação de lama na BR-040. A via está interditada e a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros atuam no local. pic.twitter.com/svkvDXluUx
— TV Band Minas (@TVBandMinas) January 8, 2022
Negligência
Em nota emitida nesta terça-feira (11), o Movimento dos Atingidos por Barragens lista uma série de situações de risco ocorridas desde o início das chuvas que envolvem 12 grandes empresas que operam barragens na região, a maioria delas de capital internacional.
Segundo o movimento, os desastres ocorridos nos últimos meses não devem ser atribuídos aos altos índices de chuva, mas são “responsabilidade histórica de quem constrói um modelo de desenvolvimento que produz a morte como resultado corriqueiro”.
O texto recorda que o problema das inundações tem sido alvo de preocupação dos responsáveis pelo planejamento urbano desde que as cidades mineiras começaram a se desenvolver. No entanto, para o MAB, tal problema se agrava quando “o interesse da especulação imobiliária, da mineração, dos empreendimentos de geração de energia, de uma agricultura predatória e de outras inciativas que priorizam o lucro encontram a conivência do governo em diversas instâncias”.
“Uma afirmação básica a se fazer é que não existe segurança nas barragens no Brasil e, mais uma vez, Minas Gerais é exemplo disto. Todas as estruturas, mesmo as que não estão oficialmente monitoradas por risco de rompimentos, causam danos quando, por exemplo, abrem as comportas. Os prejuízos causados incluem o assoreamento dos rios e córregos e o pavor gerado em milhões de pessoas que vivem com algum grau de dano psicológico por medo dos efeitos desta insegurança”, destaca o documento.
No texto, o MAB ainda reforça a atuação junto às famílias e comunidades atingidas por barragens e defende como fatores fundamentais para a garantia de segurança da população mineira: o fortalecimento do papel do Estado com investimentos em estruturas de fiscalização de barramentos e outros empreendimentos; o fortalecimento de órgãos públicos como a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros; e a aprovação e aplicação de leis que não só protejam as pessoas atingidas, como também punam os responsáveis pelos crimes socioambientais e garantam a reparação integral dos danos causados.
Edição: Jaqueline Deister