A incompetência, o fascismo, o analfabetismo político e a farsa foram as principais manifestações constatadas durante a votação da admissibilidade do pedido de impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, no último domingo (17), em Brasília.
A derrota do governo foi recebida com muita preocupação por setores sociais que durante semanas ocuparam as ruas do país em defesa dos princípios democráticos. O cientista político e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), Marcio Malta, fez uma análise para a Pulsar Brasil sobre a atual conjuntura do país. Para ele, o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) vai tentar se aproximar ainda mais dos movimentos sociais para se fortalecer diante da sociedade.
Porém, o cientista não vê um cenário muito promissor para o PT. De acordo com Malta, será difícil impor uma agenda para os movimentos após promessas vazias e falta de diálogo durante os últimos meses.
O outro desafio de Dilma, caso permaneça no poder, será a governabilidade diante de uma Câmara que teve 367 votos favoráveis ao seu afastamento contra 137. A sessão mais assistida da Casa trouxe à tona ainda o perfil dos deputados que representam a população brasileira. A maioria das falas em defesa do impeachment traziam em seu discurso a moralidade, os valores familiares e o nome de Deus.
Representante da bancada da bala, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi muito aplaudido pelos parlamentares pró-impedimento. Durante a sua fala, Bolsonaro saudou Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pela forma como conduziu o trabalho na Casa e ressaltou ‘a memória’ do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ‘o pavor de Dilma Rousseff’, segundo o deputado.
Ustra representa uma das piores faces da ditadura civil-militar que se instalou no Brasil durante 21 anos. Nos anos de chumbo, ele comandou o DOI-CODI, órgão de repressão do segundo Exército, em São Paulo. O militar, conhecido nos porões da ditadura como ‘Doutor Tibiriçá’, foi apontado como o responsável por perseguições, torturas e mortes de opositores ao regime.
A fala de Bolsonaro causou revolta entre parlamentares. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) contra-atacou o ultraconservador. Jandira mostrou indignação pelo fato de Cunha permanecer na presidência da Câmara e foi vaiada. A deputada denunciou uma aliança entre corruptos e torturadores, como é o caso de Jair Bolsonaro, para realizar o golpe.
Apesar da hostilização, Jean Wyllys (PSOL-RJ) não se calou. O deputado afirmou estar constrangido por participar da votação da Câmara conduzida por um ‘ladrão’ e apoiada por ‘torturadores, covardes, analfabetos políticos e vendidos’.
O deputado se envolveu num incidente com Bolsonaro. Segundo Wyllys, o parlamentar ultraconservador o agrediu verbalmente com ofensas homofóbicas após a sua fala. Em resposta, o deputado do PSOL cuspiu em Bolsonaro.
Para Malta, a votação mostrou que o conservadorismo é reflexo de um avanço da direita que tem conquistado cada vez mais espaço no país. O cientista político afirma que o discurso de ódio é crescente principalmente da bancada da bala.
Agora, o processo de impeachment da presidenta segue para o Senado nesta segunda-feira (18). Ao todo, três votações em plenário estão previstas até a conclusão do processo. Se o relatório for aprovado, Dilma será notificada e afastada do cargo por 180 dias para que ocorra o julgamento. Neste período, a presidência será assumida pelo vice-líder Michel Temer (PMDB-RJ). (pulsar)