A segunda semana de trabalho da CPI da Covid no Senado Federal foi marcada pelos depoimentos do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e dos ex-ministros da pasta, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Enquanto Queiroga irritou os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito ao se esquivar das perguntas sobre a atuação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no combate à pandemia, Mandetta e Teich não pouparam críticas à gestão do chefe do Executivo. A insistência de Bolsonaro na defesa do uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus – como é o caso da cloroquina – foi o principal ponto levantado pelos ex-ministros.
Segundo Mandetta, desde o início da pandemia no Brasil o presidente foi alertado sobre as consequências de não ouvir a ciência. O ex-ministro garante, inclusive, que teria apresentado a projeção de alto número de mortes caso as medidas indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) não fossem seguidas. No entanto, ainda segundo Mandetta, Bolsonaro teria optado por seguir “aconselhamentos de grupos paralelos” próximos aos filhos do presidente.
Leia mais: Brasil é o país com maior número de jornalistas mortos por Covid-19
Nelson Teich, que assumiu o ministério após a demissão de Mandetta, afirmou em seu depoimento que não recorda de nenhuma interferência direta do presidente nas ações do Ministério. Mas assumiu que o motivo para ter se desligado do Governo foi um pronunciamento em que Bolsonaro afirmou que o uso da cloroquina seria implementado como política de saúde e que o ministro da Saúde deveria alinhar-se à proposta.
Interrogado se compartilhava da opinião do presidente sobre o uso de cloroquina no combate ao Covid-19, o atual ministro Marcelo Queiroga alegou se tratar de uma questão técnica e disse não ter autorizado distribuição do medicamento em sua gestão.
O ex-ministro Eduardo Pazuello, também deveria ter se apresentado à comissão esta semana, mas teve seu depoimento adiado para o dia 19 de maio. O general da ativa alegou que teve contato no fim de semana com dois coronéis infectados pelo Covid e por isso não poderia comparecer. O depoimento de Pazuello é um dos mais esperados pelos membros da Comissão, pois foi sob sua gestão que o Governo Federal recusou 11 ofertas de vacinas e começou a faltar material básico no Sistema Único de Saúde (SUS), como oxigênio e remédios para intubação.
Para a próxima semana estão previstos os depoimentos de Antônio Barra Torres, diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação e o ex-mnistro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Também comparecerão ao Senado a presidenta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade; o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas; representantes da farmacêutica Pfizer e Fernando de Castro Marques, presidente da farmacêutica União Química, empresa que tenta obter autorização para a utilização no Brasil da vacina russa Sputnik V.
A previsão de duração da CPI é de 90 dias, podendo ser prorrogada mediante aprovação no plenário do Senado. O prazo máximo é o fim da atual legislatura, em 31 de janeiro de 2023.