O número de pessoas que se identificam com o espectro político de esquerda no Brasil aumentou nos últimos cinco anos. De acordo com a pesquisa “Perfil Ideológico dos Brasileiros”, realizada no último mês pelo Instituto Datafolha, 49% da população brasileira se identifica com valores e comportamentos defendidos por organizações e militantes de esquerda e centro-esquerda. Segundo o Datafolha, trata-se do índice mais alto da série histórica, iniciada em 2013 (eram 41% em 2017 e 35% em 2014).
Ainda de acordo com a pesquisa, os índices mais altos de identificação com a esquerda ocorreram entre as mulheres (55%, ante 42% dos homens), jovens de 16 a 24 anos (67%, ante 39% entre os que têm 60 anos ou mais) e entre as camadas mais instruídas da população (55%, ante 42% entre os menos instruídos). Por outro lado, os homens com 60 anos ou mais e com renda familiar de mais de 10 salários mínimos são a maioria entre os que se identificam como de direita ou centro-direita.
Para chegar a estes resultados o Datafolha consultou os brasileiros adultos sobre uma série de questões envolvendo valores sociais, políticos, culturais e econômicos, e a partir daí os posicionou em duas escalas, de comportamento e pensamento econômico, dentro das quais os entrevistados foram segmentados em esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita. Ao todo, foram realizadas 2.556 entrevistas em todo o Brasil, distribuídas em 181 municípios. A margem de erro máxima para o total da amostra é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Entre as pessoas que se consideram de esquerda, 17% estão mais ao extremo do espectro político (eram 10% em 2017) e 32% mais à centro-esquerda (eram 31% em 2017).
Em relação às demais classificações, 17% das pessoas entrevistadas se identificaram com o centro político (eram 20% em 2017 e em 2014) e 34% com o espectro político de direita – o índice mais baixo da série histórica, segundo o Datafolha (era 40% em 2017 e 45% em 2014). Ainda segundo a pesquisa, dentro do campo da direita 9% se identificam mais ao extremo do espectro político (eram 10% em 2017) e 24% à centro-direita (eram 30% em 2017).
No campo referente à escala de comportamento e valores, o estudo demonstra que a parcela de brasileiros identificados com a esquerda cresceu e registrou o índice mais alto da série histórica, 42% (eram 31% em 2017 e 24% em 2014), enquanto a parcela de direita recuou e alcançou o índice mais baixo da série, 39% (eram 47% em 2017 e 55% em 2014). O centro político se mostra estável, em 20% (eram 22% em 2017 e 21% em 2014).
Ainda sobre o campo de comportamento e valores, a pesquisa aponta que as questões que apresentaram maiores mudanças nos índices em direção ao espectro de esquerda foram: “Adolescentes que cometem crimes devem ser reeducados” e “Os sindicatos são importantes para defender os interesses dos trabalhadores”. Neste ponto, em comparação à pesquisa de 2017, a taxa que avalia que os adolescentes que cometem crimes devem ser reeducados cresceu nove pontos percentuais, passando de 25% para 34%. Já, a taxa que avalia que os adolescentes que cometem crimes devem ser punidos como adultos seguiu majoritária, recuou de 73% para 65%.
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Com relação aos sindicatos, a taxa que avalia que os sindicatos são importantes para defender os interesses dos trabalhadores cresceu nove pontos percentuais, foi de 38%, em 2017, para 47% neste ano, enquanto a taxa dos que avaliam que os sindicatos servem mais para fazer política do que para defender os trabalhadores recuou de 58% para 50%.
O crescimento da esquerda também foi observado no campo do pensamento econômico, ainda que de forma menos acentuada. Neste quesito, a parcela identificada com a esquerda também registrou o índice mais alto da série, 50% (eram 44% em 2017 e 43% em 2014). Já, a parcela identificada com a direita recuou e registrou a taxa mais baixa da série, 25% (eram 28% em 2017 e 30% em 2014). O grupo identificado com o centro político ficou estável, em 25% (eram 28% em 2017 e 27% em 2014).
Edição: Jaqueline Deister