

A pandemia de Covid-19 no Brasil tem sido extremamente reveladora no que diz respeito às desigualdades sociais no país. Enquanto o Brasil experimenta o pior momento dos últimos 30 anos em relação à fome e dados do Ministério da Cidadania revelam que mais de 39 milhões de brasileiras e brasileiros sobrevivem com renda de até R$ 89 por mês, 11 novos brasileiros foram incluídos na lista de bilionários da revista Forbes em 2020.
Tal cenário tem provocado uma mudança significativa na percepção da opinião pública sobre a importância da redução de desigualdades e sobre a necessidade de reformas tributárias mais justas e solidárias. Isso é o que demonstram os resultados das pesquisas “Nós e as Desigualdades”, realizada pela Oxfam Brasil em parceria com o Instituto Datafolha. O relatório divulgado esta semana aponta que 86% das pessoas entrevistadas afirmam que o progresso no Brasil está condicionado à redução da desigualdade entre pobres e ricos, 94% concordam que o imposto pago deve beneficiar os mais pobres e 84% concordam com o aumento dos impostos de pessoas mais ricas para financiar políticas sociais no país.
Leia mais: Omissão de parte da mídia comercial na cobertura dos atos contra Bolsonaro é criticada nas redes
Em sua terceira edição, a pesquisa foi realizada com 2.079 pessoas, em 130 municípios, entre os dias sete e 15 de dezembro de 2020. Na comparação com as edições anteriores, percebe-se que de 2019 para 2020, o apoio ao aumento de impostos para todos os brasileiros subiu 25 pontos percentuais. Era de 31% em 2019 e passou para 56% no ano passado. Já o apoio ao aumento da tributação para os mais ricos saltou de 77% em 2019 para 84% no último ano.
Outros dados importantes da pesquisa referem-se às expectativas da população em relação ao pós-pandemia. De acordo com o relatório, 64% dos entrevistados acreditam que vai melhorar de vida nos próximos cinco anos, contudo o mesmo percentual acredita que o país não vai melhorar nesse período. Ainda nesse sentido, 60% das pessoas duvidam que o trabalho sirva como equalizador das chances dos mais pobres e 62% apoiam a manutenção do auxílio emergencial após a pandemia.
Leia também: Escalada de violência contra povos indígenas marca a semana no sudoeste do Pará
Ainda segundo o levantamento, as principais prioridades apontadas para a redução das desigualdades foram: combate à corrupção, investimento em educação, garantia de direitos iguais entre homens e mulheres, aumento da oferta de emprego, investimento público em saúde e combate ao racismo.
Sobre a percepção dos brasileiros e brasileiras sobre as desigualdades entre pessoas brancas e negras, 78% dos entrevistados concordam que a Justiça é mais dura com negros, 76% afirmam que a cor da pele influencia a contratação por empresas e 58% concordam que negros ganham menos por serem negros. Em relação às desigualdades de gênero, 67% acreditam que o fato de ser mulher impacta negativamente na renda obtida.