Redação
Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas nesta quinta-feira (17) o hacker Walter Delgatti Netto fez uma série de afirmações que, se comprovadas, podem comprometer ainda mais o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perante a Justiça.
Preso desde o dia 2 de agosto por invasão a sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Delgatti afirmou que Bolsonaro teria lhe oferecido indulto presidencial em troca da invasão da urna eletrônica e de assumir a responsabilidade por um suposto grampo instalado para monitorar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O indulto é previsto no artigo 84 da Constituição Federal e significa o perdão da pena, efetivado mediante decreto presidencial.
O hacker também assumiu ter orientado militares das Forças Armadas na elaboração do relatório sobre as urnas eletrônicas apresentado à Justiça Eleitoral pelo Ministério da Defesa em 2022. Segundo Delgatti, a orientação foi feita a pedido do próprio Bolsonaro que, junto com Duda Lima – marqueteiro do ex-presidente durante a campanha eleitoral – ainda o pediu para atuar como garoto-propaganda em vídeo com informações falsas contra a urna eletrônica.
Segundo a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), as revelações feitas pelo depoente são “bombásticas”, “absolutamente sérias” e, caso confirmadas, fornecem “fortes condições” para o indiciamento do ex-presidente. De acordo com a senadora, a história de Delgatti aponta para a tentativa de se construir “uma tentativa de fraude eleitoral e substanciar uma possível aplicação de um golpe no Brasil”.
Hacker
Walter Delgatti Netto ficou nacionalmente conhecido em 2019, quando foi preso pela Polícia Federal depois de invadir telefones e vazar mensagens de autoridades envolvidas com a operação Lava Jato. O episódio ficou conhecido como “Vaza Jato” e Delgatti como o “hacker de Araraquara”, em referência à cidade onde morava.
Em 2020, ele foi posto em liberdade, sendo obrigado a cumprir medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica e a restrição do uso de internet.
Nesta quinta-feira, durante o depoimento à CPMI que investiga que apura os atos golpistas de 8 de janeiro, além das denúncias contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, Delgatti contou que invadiu os sistemas do Judiciário brasileiro a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A deputada, contudo, nega as acusações.
“A deputada me disse que eu precisava invadir algum sistema de Justiça ou do TSE em si. Alguma invasão que mostrasse a fragilidade do sistema de Justiça. Dizendo que seria uma ordem também do presidente (Bolsonaro)”, narrou o hacker aos parlamentares.
“Fiz a invasão do CNJ e de todos os tribunais do país. Tive acesso a todos os processos, a todas as senhas de todos juízes e servidores e fiquei por quatro meses na intranet da Justiça brasileira”, detalhou.
*com informações da Agência Senado, Agência Brasil, Congresso em Foco e G1