Na última segunda-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) protagonizou mais um episódio de desrespeito e ofensa à jornalistas. Questionado sobre as 500 mil mortes por Covid-19 e sobre a falta de uso de máscara durante evento em Guaratinguetá, interior de São Paulo, o chefe do Executivo reagiu com insultos verbais e chegou a mandar uma das repórteres a “calar a boca”.
Logo após o ataque, organizações como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgaram notas criticando a postura do chefe do Executivo. De acordo com a nota da Abraji: “Jair Bolsonaro demonstrou mais uma vez seu desrespeito pela liberdade de imprensa, pela saúde pública, pela democracia e até mesmo pelas normas mais básicas de civilidade e etiqueta – um comportamento incompatível com o cargo máximo da República do Brasil”.
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No texto, a associação reforça que o desrespeito com profissionais da imprensa tem sido uma prática constante do presidente e lembra que, em 2020, Bolsonaro chegou ao ponto de ameaçar e agredir fisicamente um jornalista. O episódio ocorreu em agosto do ano passado, quando após ser questionado sobre os depósitos bancários de Fabrício Queiroz para a primeira dama Michelle Bolsonaro, o presidente respondeu: “Minha vontade é encher tua boca com uma porrada”.
Com tom mais incisivo, a nota da ABI classifica Bolsonaro como “descontrolado, perturbado, louco, exaltado, irritadiço” entre outros adjetivos. Com 113 anos de história de luta pela democracia, a associação reitera sua posição a favor do impeachment do presidente pois, segundo a nota, ele “não tem condições de governar o Brasil” e, inclusive: “Já há quem se pergunte como um cidadão com tamanho desequilíbrio pode andar por aí pelas ruas”.
De acordo com a ONG Artigo 19, apenas nos dois primeiros anos de governo foram identificados cerca de 590 ataques contra a imprensa promovidos pelo Presidente da República, seus ministros ou seus filhos com mandatos parlamentares. Outro fato importante é que, assim como ocorrido na última segunda-feira, a maior parte dos ataques são direcionados a jornalistas mulheres e são seguidos por ataques virtuais de apoiadores do presidente.
Como foi o caso?
“Eu chego como quiser, onde eu quiser. Eu cuido da minha vida”. Foi assim que o chefe do Executivo brasileiro respondeu à repórter Laurene Santos, quando interrogado sobre a falta do uso de máscara na chegada da cerimônia de formatura de sargentos da Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR).
Quando a jornalista da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo no Vale do Paraíba, lembrou que o uso de máscara era obrigatório, o presidente respondeu: “Cala a boca! Vocês são uns canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha! Canalhas que não ajudam em nada, vocês não ajudam em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam!”. Apesar do ataque, a jornalista se manteve em posição com o microfone na direção do presidente.
Ainda na ocasião, um jornalista da CNN cobrou um posicionamento de Bolsonaro sobre as 500 mil mortes por Covid-19. No lugar da resposta, o presidente reclamou da cobertura feita pela emissora sobre os protestos contra o governo realizados no último sábado (19).
Após o ocorrido, Laurene ainda foi vítima de difamação nas redes sociais através da divulgação de fotos em que a jornalista e outros dois colegas de profissão aparecem sem máscara. No entanto, conforme a própria repórter esclareceu em suas redes, o registro foi feito antes da pandemia, na cidade de Aparecida, em São Paulo.
Laurene aproveitou para agradecer as manifestações de apoio que tem recebido e finalizou: “Aos meus amigos jornalistas, eu desejo força e continuidade da missão de informar”.