O leilão para venda do edifício chamado “A Noite”, localizado na Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro foi realizado na última sexta-feira (30). O lance mínimo era de R$ 98 milhões, porém nenhuma proposta foi apresentada. O próximo leilão deverá acontecer no dia sete de junho e o preço terá uma redução de 25%.
Em 2020, o Governo Federal anunciou que colocaria o imóvel à venda através de leilão eletrônico. Como justificativa para o leilão, o Ministério da Economia alegou em nota que: “Desde 2006, o prédio estava subutilizado, deteriorando-se gradativamente até chegar ao estágio atual de quase abandono”.
Anunciado em julho de 2020, o leilão do Edifício “A Noite” estava planejado para outubro do mesmo ano, mas foi adiado para 14 de abril de 2021 e, posteriormente, para o dia 30 de abril. O motivo do adiamento do pregão foi o não cumprimento das exigências elencadas na ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2016.
Ainda que os primeiros andares do edifício continuassem ocupados pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), o descaso de sucessivos governos e a falta de reformas estruturais acelerou ainda mais o processo de deterioração do imóvel. A gravidade da situação chegou ao ponto de, em 2016, o MPF ajuizar uma ação civil pública contra a União, o Inpi e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Na ação, o MPF exigia que os responsáveis pelo edifício promovessem obras de recuperação das fachadas e substitução de peças estruturais. Exigência que, como consta no próprio texto da ação, teria sido questionada pelo Inpi sob a alegação de que: “não haveria justificativas para desembolso, para ampla reforma de um bem que será brevemente desafetado e alienado pela União”. No texto do processo de 2016 consta ainda que: “a União opta claramente pelo sucateamento do imóvel que resolveu vender e, por isso, foi abandonado o projeto básico para restauração das fachadas e recuperação de elementos estruturais de concreto armado”.
Patrimônio Histórico
Inaugurado em 1929, com 22 andares e fachadas no estilo art déco, o Edifício “A Noite” se notabilizou na história do Rio de Janeiro e do Brasil como símbolo de modernidade e de efervescência cultural. Pelos corredores e salas do primeiro arranha-céu da América do Sul passaram jornalistas, produtores, políticos e artistas da música popular brasileira como Francisco Alves, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Marlene Alves, Emilinha Borba e Cauby Peixoto.
Desenvolvido pelo arquiteto francês Joseph Gire em parceria com o brasileiro Elisário Bahiana, o prédio serviu inicialmente de sede ao jornal A Noite, primeiro jornal vespertino da então capital brasileira. Em 1933, começa a funcionar no último andar do prédio a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional. A rádio esteve sob comando do grupo A Noite até 1940, quando o governo de Getúlio Vargas, por meio de decreto, encampou o jornal, a rádio e o edifício como forma de quitar dívidas da empresa com a União. Iniciava-se a chamada “Era de Ouro” do rádio.
Além dos programas de sucesso como o humorístico “Balança Mas Não Cai”, o “Repórter Esso” e a radionovela “Em busca da felicidade”, a Rádio Nacional também marcou época ao se tornar a primeira emissora brasileira a adotar a tecnologia de ondas curtas e, com isso, transmitir sua programação para todo o país. Mesmo sem vigor e investimento das primeiras décadas, a rádio ocupou os quatro últimos pavimentos do A Noite até 2012 quando, já sob responsabilidade da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), foi transferida para a sede da empresa no bairro da Lapa.


Em 2013, o imóvel da Praça Mauá foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Segundo o parecer do próprio órgão: “o Edifício ‘A Noite’ reúne valores históricos, artísticos e paisagísticos suficientes e inquestionáveis para o devido reconhecimento como Patrimônio Nacional”. Havia, então, uma proposta da EBC de que fosse implantado no prédio um museu vinculado à história da Rádio Nacional. A iniciativa, contudo, não foi adiante.