Criado durante a pandemia de Covid-19 no Brasil e voltado para a educação de jovens do semiárido nordestino, o projeto Educar Nestante, do Instituto Ubíqua, venceu o Prêmio LED 2023 – Luz na Educação. A cerimônia de premiação da Rede Globo e Fundação Roberto Marinho foi realizada na última quarta-feira (26).
Escolhida entre mais de dois mil projetos inscritos, a plataforma educacional do Instituto Ubíqua – afiliado da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc Brasil) foi a grande vencedora na categoria “empreendedores e organizações inovadoras”.
De acordo com o coordenador do projeto e presidente do Instituto Ubíqua, Jessé Barbosa, o Educar Nestante foi desenvolvido a partir de uma estratégia metodológica criada pela própria organização para otimizar o processo ensino-aprendizagem mediado pela tecnologia digital. A plataforma é gratuita e funciona em computadores, tablets e celulares. Após baixar o aplicativo, os usuários podem acessar os conteúdos tanto online como offline.
“O ‘nestante’ faz alusão ao online. É o nosso jeito de falar ‘neste instante’. Em setembro do ano passado [2022] nós fizemos uma pesquisa e descobrimos que 72% dos jovens com os quais a gente trabalha – jovens rurais, do semiárido do Piauí – não têm acesso regular a internet. O único acesso é através de dados móveis de operadoras de celular. O Educar Nestante é um aplicativo que permite ao estudante baixar o conteúdo e estudar em qualquer lugar e a qualquer hora, mesmo sem acesso à internet”, explicou Jessé à Pulsar.
Leia também: Instituto Ubíqua lança curso de Gestão e Monitoramento de Mídias Sociais
Segundo Jessé, o projeto já conseguiu mediar a educação de pelo menos 800 jovens de comunidades rurais no interior do Piauí. Neste ponto, o coordenador destaca que mais do que oferecer “aulas online”, o projeto envolve diversos elementos formativos como, por exemplo, discussões sobre inserção laboral, mercado de trabalho e pesquisa.
“O Educar Nestante já comprovou que os estudantes que fazem parte desse projeto conseguem melhorar o desempenho na escola – aumentam as notas, a participação. Com isso, o projeto contribui para diminuir a evasão escolar. É um projeto que dá mais sentido ao estudo, a fazer parte de um processo de ensino-aprendizagem”, pontuou.
“Sala de Aula Invertida”
Além de facilitar o acesso a conteúdos educativos em regiões com baixa cobertura de internet, de acordo com Jessé Barbosa, um dos principais fatores para o sucesso da plataforma está nos chamados “Ciclos de Aprendizagem Ubíqua”, proposta pedagógica desenvolvida ao longo dos mais de 10 anos de atuação do Instituto com a formação de comunicadores e comunicadoras populares no interior do Nordeste.
“O Educar Nestante nasceu dentro dos cursos de formação de comunicadores populares. O primeiro sinal de que a gente precisava desenvolver uma metodologia e uma plataforma que atendesse as comunidades carentes foi dentro do curso de ‘Repórter Digital’ que nós realizamos em parceria com várias outras organizações para o semiárido do Piauí, do Ceará e da Bahia”, contou o jornalista.


Segundo Jessé, o projeto trabalha com a ideia de “sala de aula invertida”, em que o aluno tem acesso aos conteúdos e exercícios – na forma de “desafios” – antes mesmo da aula.
“A gente inverte a lógica do professor que sabe. Nesse mundo novo que a gente vive, não precisa mais o professor repassar conteúdo. O conteúdo pode ser acessado e estudado antes da aula. E aí a aula serve para exercitar, para fazer links e criar sentidos para aquele conteúdo. Além do acesso prévio ao conteúdo pelo aplicativo, o aluno tem o desafio, que ‘gamefica’ e acrescenta um contexto ao aprendizado”, detalhou o coordenador do projeto.
Rede solidária
Ao comentar sobre a importância do Prêmio LED 2023 e as perspectivas futuras do Educar Nestante, Jessé considera a premiação como “a ponta de chegada” dos 12 anos de trabalho do Instituto Ubíqua com a comunicação comunitária popular. Ele ressalta que a plataforma não é um projeto isolado, mas faz parte do “ecossistema Nestante”, que conta ainda com uma mídia social voltada para a juventude rual, uma TV Web – Tv Nestante – e uma agência de comunicação solidária.
“O caminho natural do Educar Nestante é se expandir. A gente quer aproveitar esse sucesso também para colocar de pé a Agência Nestante de Comunicação Solidária. Porque, no fim de tudo, a gente quer ter, dentro de um ano ou mais, uma rede de comunicação solidária. Uma rede de pessoas de povos quilombolas, povos originários, agricultores e agricultoras familiares, pessoas com deficiência, que possam mediar e pautar temas que são importantes para grupos discriminados e desprezados no país”, concluiu Jessé.
Edição: Jaqueline Deister