Atualizada às 11h05 do dia 08/12/2021
No último sábado (4), o que deveria ser um evento cultural gratuito e aberto ao público no Centro do Rio de Janeiro terminou em mais uma ação truculenta da Guarda Municipal carioca (GM-Rio).
O “Fechamento”, evento realizado há quatro anos pela equipe do Escritório Transfusão na Rua da Constituição, estava programado para começar às 18h, mas foi impedido por agentes da GM-Rio que, munidos de escudos, cassetetes e spray de gás pimenta, ordenaram o cancelamento da atividade e apreenderam equipamentos de som.
Segundo a equipe do Escritório, os agentes teriam feito uma primeira abordagem exigindo autorização prévia para a ocupação da via pública. De acordo com a equipe, o documento não havia sido solicitado em nenhuma das edições anteriores.
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Ainda conforme os relatos da equipe, diante da ausência da autorização, os guardas municipais se retiraram temporariamente e retornaram acompanhados por agentes do Grupo de Operações Especiais (GOE). Em publicação nas redes sociais, o Escritório Transfusão conta como a situação mudou:
“Escalonaram a situação convocando a chegada dessa tropa da GM com pelo menos cinco viaturas e uma van, intimidando prisão, e manifestando uma conduta exageradamente agressiva. Spray de gás de pimenta e todo tipo de estupidez foram disparados sem motivo”, narra a equipe, que acrescenta:
“Em momento algum nos negamos a recolher nosso equipamento, nem ameaçamos a integridade física dos agentes, mas eles seguiram tentando nos impedir de levar nossas coisas. Ameaçando diversas pessoas presentes no evento e utilizando de força excessiva contra os músicos, com gás de pimenta e agressão física, os guardas seguiram confiscando instrumentos musicais e equipamentos de som de propriedade privada nossa”, explicam.
Toda a ação dos guardas municipais foi registrada em vídeo por pessoas que aguardavam pelo início do evento e acompanharam a abordagem.
À Pulsar Brasil, Lê Almeida, músico e integrante da equipe Escritório, disse que o “Fechamento” tem como proposta promover a cultura de forma aberta e gratuita em uma área “um tanto esquecida” da cidade. Segundo ele, esta foi a primeira vez que o evento sofreu com este tipo de abordagem da GM-Rio.
“Todas as edições anteriores aconteceram na paz. As adversidades foram sempre inesperadas, como chuvas (de água). Essa foi a primeira vez que a chuva foi de gás pimenta”, comentou.
Ainda segundo o músico, a ação intimidatória dos guardas municipais impactou não apenas os organizadores do evento, mas todas as pessoas presentes e as que, posteriormente, “assistiram o vídeo e sentiram o calor do abuso de poder explícito”.
De acordo com a equipe Escrtiório, os equipamentos apreendidos não foram recuperados e seguem até o momento sob posse da GM-Rio. Segundo Lê Almeida, representantes da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro teriam entrado contato com a equipe após o ocorrido e marcado uma reunião para a próxima semana com o secretário Marcus Faustini.
Outro lado
A Pulsar Brasil entrou em contato com a GM-Rio para obter um posicionamento sobre os fatos relatados e registrados em vídeo. A assessoria informou que “Os agentes foram acionados pela unidade operacional da região, a 1ª Inspetoria, pois os organizadores do evento não teriam obedecido a orientação para desligar os equipamentos e ainda teriam aumentado o volume”.
Segundo informado pela nota enviada à agência, “quando a equipe do GOE chegou ao local fez-se necessário a utilização do ‘espargidor de pimento’ porque havia muitas pessoas no local tentando impedir a atuação do efetivo. Foram apreendidos quatro banquinhos, uma caixa de som, um tantan com tripé, dois tripé e um banquinho com tripé, totalizando dez itens apreendidos, que foram levados para o depósito da Prefeitura”.
A GM-Rio destaca ainda que os proprietários do material podem reavê-lo no depósito da Prefeitura apresentando o lacre e também a nota fiscal das mercadorias.
Edição: Jaqueline Deister