Um novo caso de racismo no futebol brasileiro tomou conta da imprensa esportiva desde o último sábado (28). Pela terceira vez em menos de dois meses o jogador Celsinho, do Londrina Esporte Clube, foi alvo de ofensas raciais durante uma partida da Série B do Campeonato Brasileiro. Desta vez, o crime ocorreu durante o empate de zero a zero com o Brusque, no Estádio Augusto Bauer, casa da equipe catarinense. Conforme registrado na súmula da partida, um dirigente do Brusque seria o responsável pelas injúrias contra Celsinho.
O caso, que já era grave, piorou quando a diretoria do quadricolor, após ser informada sobre o fato, divulgou uma nota em que não apenas negava o ataque como acusava a vítima de “falsa imputação de racismo” e classificava a denúncia como um ato de “oportunismo” do jogador.
O posicionamento inicial da equipe catarinense foi duramente criticado nas redes sociais. Em defesa do meia, os jogadores do Londrina publicaram um vídeo em que declaram que o crime de racismo não ficará impune. Além dos companheiros de clube, o jogador Betão, zagueiro do Avaí, também usou as redes para se pronunciar sobre o caso:
“Essa nota reflete o pensamento do nosso país, a ideia de que o preconceito não existe, é ‘mimimi’, coisa que a gente inventa. Mas a verdade é que só vai entender quem sofre, e nós sofremos, sim, preconceito racial no Brasil. Enquanto não houver punição severa, entendimento de que se trata de uma questão sociocultural, isso vai continuar”, afirmou o atleta em vídeo publicado no Instagram.
Dedicado a monitorar e divulgar casos de racismo e ações afirmativas no futebol brasileiro, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol também manifestou apoio a Celsinho através das redes e pontuou: “Tentar silenciar as vítimas de racismo é cruel demais e mostra o quanto ainda estamos muito distante de acabar com atos e atitudes racistas. Racismo não se Tolera. Racismo se combate”.
Frente a repercussão negativa, a diretoria do Brusque emitiu uma nova nota nesta segunda-feira (30). No documento, o clube pede desculpas a Celsinho e caracteriza a declaração inicial como um “momento infeliz”.
Ainda na segunda-feira, a Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) informou que está analisando como será feita a denúncia sobre o caso. De acordo com o órgão, serão avaliados a súmula da partida e os videos do jogo para definir quem serão os denunciados e em quais artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) serão enquadrados.
Na súmula preenchida pelo árbitro Fábio Augusto Santos Sá Junior consta que o ato racista teria sido desferido por Júlio Antônio Petermann, presidente do Conselho Deliberativo do Brusque FC. Na contramão do pedido de desculpas escrito pelo clube, em entrevista ao jornal Folha de Londrina, Petermann alegou que não houve qualquer ato racista durante o jogo. Segundo ele, a única coisa que foi dita foi “para cortar o cabelo dele”: “Isso aí é ofensa?”, questionou o dirigente, que ainda declarou mais uma vez: “Ele que está se fazendo de vítima”.
Cabelo
De acordo com a súmula do empate entre Brusque e Londrina, Petermann teria dito a Celsinho: “Vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha”. Foi a terceira vez que o cabelo afro do atleta foi alvo de comentários racistas.
O primeiro episódio aconteceu no dia 17 de julho em partida do Londrina contra o Goiás. Na ocasião, o narrador Romes Xavier e o comentarista Vinícius Lima, ambos da Rádio Bandeirantes Goiânia, usaram termos como “cabelo pesado”, “bandeira de feijão” e “um negócio imundo” para se referir ao cabelo do meia. Após denúncias, a dupla foi afastada da emissora.
Ainda em julho, no dia 23, durante a transmissão da vitória de um a zero do Londrina sobre o Remo, o narrador Cláudio Guimarães, da Rádio Clube do Pará, comparou o cabelo de Celsinho a um “ninho de cupim”. Cláudio também foi afastado do trabalho após a injúria.
Edição: Jaqueline Deister