‘Um sopro de esperança’. Este foi o sentimento despertado por todos que acompanharam a visita do ex-presidente do Uruguai José Mujica ao Rio de Janeiro na última quinta-feira (27). Com simplicidade, Pepe deu uma aula sobre a importância de se rever os atuais valores de consumo da sociedade mundial e a necessidade de nos integrarmos como latino-americanos.
Pela manhã, o ex-presidente foi homenageado pela Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur) com o prêmio Personalidade Sur, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Durante o seu discurso, Mujica fez duras críticas ao capitalismo, a cultura do consumo e a política como caminho para enriquecimento. O atual Senador uruguaio arrancou aplausos do público ao destacar que os políticos não podem ser movidos por interesses pessoais e que devem viver como a maioria da população e não como a minoria privilegiada.
Indagado sobre a instabilidade do cenário político do Brasil, Pepe foi cauteloso. O ex-presidente destacou a capacidade da nação de se reerguer de situações difíceis e afirmou que por exercer a atividade política em outro país não podia opinar com mais detalhes.
Com relação à liberação das drogas, Mujica foi decisivo ao afirmar que é preciso acabar com o mercado do narcotráfico. De acordo com o Senador, regulamentar o uso das drogas ilícitas é assegurar que o consumidor tenha uma dose para comprar sem precisar recorrer ao mercado clandestino. Para esclarecer a política adotada pelo seu governo, o ex-presidente fez uma analogia com o uísque. Segundo ele, aquele que consome uma garrafa, em vez de uma dose por dia, precisa de tratamento de saúde, o mesmo ocorre com os usuários de drogas.
Pela noite, Mujica participou de um encontro que reuniu cerca de cinco mil jovens na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O ex-presidente respondeu perguntas selecionadas pela organização do evento e se despediu tirando uma foto em frente à multidão.
A coerência entre prática e discurso do ex-líder do Uruguai o tornou mundialmente conhecido e admirado. Mujica rejeitou os benefícios da presidência da república de seu país, se recusou a viver no palácio presidencial e doou mais de 90 por cento do seu salário para a caridade. Nos cinco anos de mandato, Pepe reduziu a pobreza do Uruguai de 37 para onze por cento e colocou o país no rol das nações mais progressistas do mundo ao legalizar o aborto, a maconha e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.(pulsar)