Após dois anos sem partido e meses de negociações, o presidente Bolsonaro confirmou, nesta terça-feira (30), sua filiação ao Partido Liberal (PL) e o retorno oficial ao dito “Centrão” da política brasileira.
Em cerimônia realizada na sede do partido em Brasília, Bolsonaro reconheceu que está se “sentindo em casa” na legenda presidida por Valdemar Costa Neto, político já condenado e preso por corrupção.
Ainda durante o evento, diante da presença de parlamentares do Progressistas (PP) e do Republicanos (PR), partidos do “Centrão” com os quais também negociou, o chefe do Executivo fez questão de destacar: “Pode ter certeza que nenhum partido será esquecido por nós”.
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Desde que se desligou do Partido Social Liberal (PSL), em novembro de 2019, Bolsonaro tentou acordo com partidos que vão da extrema-direta ao centro, mas até o momento não havia selado aliança com nenhuma sigla. No início de novembro, a filiação ao PL chegou a ser suspensa após discussão com o presidente da sigla.
Com o “casamento” confirmado, o PL será o nono partido da carreira política de Bolsonaro. Em aproximadamente três décadas de vida pública, o presidente eleito com o discurso de combater a “política fisiológica” já integrou o PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL.
Casamento
Embora não tenha confirmado sua candidatura à reeleição em 2022, no discurso feito a parlamentares e ministros que compareceram à cerimônia de filiação, Bolsonaro garantiu que deve compor nos estados para indicar candidatos a senador e governador. Conforme definiu o próprio presidente: “uma filiação é como um casamento. Não seremos marido e mulher, seremos uma família”.
De acordo com informações de O Estado de S. Paulo, de 20 a 30 deputados bolsonaristas devem migrar com Bolsonaro para o PL. Caso tais filiações se confirmem, o partido que hoje é o terceiro maior da Câmara dos Deputados, com 43 parlamentares, se consolidará como o maior partido na Casa, com mais de 60 representantes, o que influi diretamente na quantidade de recursos públicos que serão destinados ao partido para a campanha eleitoral de 2022. Além dos recursos, o futuro candidato à presidência da sigla disporia de mais estrutura e mais tempo de TV do que o atual presidente teve em 2018.
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Junto com Bolsonaro, também se filiaram ao partido de Costa Neto o ministro do Desenvolvimento Regional; Rogério Marinho e o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, que desde 2018 já passou pelo PSL, PR e Patriota.
O ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, também anunciou que se filiará ao PL nos próximos dias para concorrer ao cargo de governador do Rio Grande do Sul em 2022. Atualmente, o ministro é filiado ao DEM, partido que se fundiu com o PSL para compor uma nova legenda que ainda aguarda a aprovação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a União Brasil.
Além de Onyx e Rogério Marinho, o evento de filiação de Bolsonaro foi acompanhado pelos ministros Paulo Guedes (Economia), Flávia Arruda (Secretaria de governo), Marcos Pontes (Ciência e tecnologia), Tarcísio de Freitas (infraestrutura), Tereza Cristina (Agricultura), Milton Ribeiro (Educação) e Ciro Nogueira (Casa Civil).
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também compareceu à cerimônia.
Em aberto
Apesar da filiação, Bolsonaro e a cúpula do PL ainda não chegaram a um acordo definitivo sobre as alianças estaduais do partido no pleito de 2022.
Mesmo superado o impasse em relação a São Paulo, com a indicação da candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, ao invés do apoio à candidatura do atual vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), seguem as dúvidas sobre o posicionamento da legenda em estados das regiões Norte e Nordeste, onde o partido mantém alianças com integrantes do Partidos dos Trabalhadores (PT) e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Em depoimento à Folha de São Paulo, o deputado Wellington Roberto, líder do PL na Câmara, afirmou que a sigla não descarta a possibilidade de destituir diretórios estaduais que não aceitarem o novo alinhamento político.
Ao longo dos últimos 20 anos, o PL se fez presente na base aliada de todos os governos, com participação nas gestões dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Edição: Jaqueline Deister