

Faltando três dias antes das eleições nacionais, a polícia da cidade de Buenos Aires, na Argentina, assassinou Facundo Molares, membro da organização de esquerda “Movimiento de Rebelión Popular”, durante uma manifestação com outros movimentos sob o lema “contra a farsa eleitoral e pela democracia do povo”.
A mobilização das organizações de esquerda reuniu vários manifestantes no obelisco de Buenos Aires, que foi imediatamente cercado por um número desproporcional de policiais da Polícia Municipal, que reprimiram o protesto e prenderam alguns dos manifestantes.
Um deles era Molares, que não resistiu à prisão violenta e desnecessária, num acontecimento que se assemelhou à detenção e assassinato do afro-americano George Floyd nos EUA, em maio de 2020.
As imagens do assassinato de Molares viralizaram a partir de diferentes meios de comunicação comunitários que cobriam a mobilização. A cena provocou o repúdio de todas as organizações de direitos humanos do país, sindicatos e organizações sociais que convocaram uma nova manifestação em frente ao obelisco para exigir justiça e denunciar o avanço repressivo.
O chefe de governo da cidade de Buenos Aires e candidato presidencial da principal aliança de direita do país, Horacio Rodríguez Larreta, apoiou a ação policial. Segundo ele, a operação “atuou com profissionalismo, contendo os atos de violência”, e afirmou que a morte do líder esquerdista ocorreu “devido a um ataque cardíaco”.
Quem foi Facundo?
Facundo Molares foi um militante internacionalista. Em 2003 entrou para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), ao integrar a Coluna Teófilo Forero. Após os acordos de paz, voltou para a Argentina e se dedicou à comunicação popular. Em 2019, como fotojornalista, cobriu o golpe contra o presidente Evo Morales na Bolívia, onde foi baleado três vezes durante a repressão e passou 23 dias hospitalizado em coma induzido, antes de ser detido por 13 meses, acusado de terrorismo pelo governo golpista boliviano.
Em 2020 conseguiu regressar ao país onde teve de suportar outra detenção arbitrária num processo de extradição ilegal promovido pela Argentina, que foi arquivado pela mesma justiça colombiana, devido à anistia promovida pelos mesmos Acordos de Paz, que permitiram a desmobilização das FARC naquele país. No entanto, enfrentou mais de seis meses de prisão em condições deploráveis. Após a sua libertação, continuou o seu trabalho de comunicador e a sua militância no Movimento de Rebelião Popular até ao seu assassinato centro de Buenos Aires na última quinta-feira (10).
Edição: Jaqueline Deister