Na última segunda-feira (10), a comunidade de Palimiu, na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima, foi alvo de mais um ataque de garimpeiros da região. Divididos em sete embarcações, o grupo de homens armados rompeu a barreira sanitária estabelecida pelos Yanomami no Rio Uraricoera e efetuaram disparos contra a aldeia. O ataque ocorreu por volta das onze da manhã e foi revidado pelos indígenas. Segundo testemunhas, três garimpeiros morreram, cinco foram baleados e um indígena ficou ferido, mas passa bem.
Vídeo mostra o momento dos disparos de arma de fogo na comunidade Palimiu, TI Yanomami, ontem (10). A violência tem sido potencializada pelas ações e discursos do presidente da República, favorável ao garimpo em terras indígenas.
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— Cimi (@ciminacional) May 11, 2021
De acordo com a agência de jornalismo Amazônia Real, os executores do ataque seriam ligados ao crime organizado. Mais precisamente ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo que, segundo a agência, domina o tráfico de drogas em Roraima e opera garimpos ilegais de ouro dentro do território indígena.
No mesmo dia, a Fundação Nacional do Índio (Funai) emitiu relatório informando sobre o ocorrido e alertando para o perigo iminente de novos conflitos na região. Conforme o documento, os garimpeiros teriam ameaçado voltar a atacar a comunidade. Por conta do risco, cinco servidores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) serão retirados da região.
O Ministério Público e o Exército também foram notificados e prometeram apurar o caso para tomar as medidas cabíveis.
“Tragédia anunciada”
De acordo com organizações que atuam junto aos povos Yanomami e Ye’kuana, o ataque desta semana não pode ser visto como fato isolado. Só em 2021, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) já comunicou duas situações de conflito armado na região envolvendo garimpeiros. Um em fevereiro e outro no final de abril. Segundo, Dário Kopenawa, vice-presidente da associação, cerca de 20 mil garimpeiros trabalham com a extração ilegal de ouro dentro da Terra Indígena Yanomami.
Para a coordenadora regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Adriana Huber Azevedo, a situação dos yanomami é estarrecedora pois, segundo ela, há anos os indígenas têm denunciado a intensificação do garimpo em suas terras e até hoje nenhuma providência foi tomada pela União.
“Teve medida cautelar da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) exigindo que o Estado brasileiro garanta que os Yanomami possam viver com segurança no seu território, conforme a Constituição lhes garante, tem sentença da Justiça Federal determinando multa diária de um milhão de reais à União se não fizer a desocupação da Terra Yanomami, e simplesmente o Governo não faz. Ele está acobertando criminosos que estão perturbando os indígenas, os atacando nas suas casas e isso é uma situação inaceitável” comenta a antropóloga que ainda recorda outros casos ocorridos na região como o massacre de Haximu, em 1993, e o assassinato dos jovens Original Yanomami e Marcos Arokona em 2020.
Em nota divulgada hoje, o Cimi “repudia o recente ataque contra os Yanomami e denuncia a negligência e omissão do Estado brasileiro na proteção da vida e do território Yanomami e no atendimento à saúde”.
A organização também exige que o Poder Executivo cumpra com as obrigações constitucionais e retire definitivamente os garimpeiros de dentro da terra indígena. Reivindica também que sejam apurados e punidos todos os envolvidos no esquema de exploração ilegal e enriquecimento ilícito e que “o Estado brasileiro garanta a reparação dos danos ambientais e morais que os povos Yanomami e Ye’kuana vêm sofrendo há décadas em seu território”.