De cada quatro hectares de terras mineradas no Brasil, três são na Amazônia, o que corresponde a 72,5% do total de terras ocupadas pela mineração industrial e pelo garimpo ilegal. Em relação ao garimpo, as áreas de proteção ambiental e as terras indígenas são as mais afetadas. Nos últimos dez anos, a atuação de garimpeiros em terras indígenas cresceu 495%, enquanto em unidades de conservação, a taxa foi de 301%. Os dados são de um levantamento divulgado esta semana pelo MapBiomas, um projeto que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia para monitorar as transformações no uso da terra no país.
Com base em imagens de satélite e tecnologias de inteligência artificial o estudo traz uma análise histórica do uso e ocupação do território brasileiro desde 1985 até 2020. Segundo a pesquisa, ao longo dos últimos 35 anos, a área minerada no Brasil saltou de 31 mil hectares em 1985 para 206 mil hectares em 2020, um aumento de mais de 564%.
Ainda com base no levantamento, convém destacar que, enquanto a expansão da mineração industrial manteve a média de avanço de 2,2 mil hectares por ano durante o período analisado, o crescimento do garimpo teve um salto na última década. Se até 2009 o ritmo de avanço da extração ilegal de minérios era de 1,5 mil hectares por ano, a partir de 2010 o índice de expansão quadruplicou e alcançou a marca de 6,5 mil hectares por ano, chegando ao ponto de, hoje, a área ocupada pelo garimpo no Brasil ser maior que a ocupada pela mineração, com 107,8 mil hectares contra 98,3 mil hectares.
Enquanto na abordagem geral das áreas mineradas, se verifica uma distribuição dos estados com mais território afetado entre as regiões do Brasil, com o Pará em primeiro lugar (110.209 ha), seguido de Minas Gerais (33.432 ha) e Mato Grosso (25.495 ha), quando se trata especificamente do garimpo, 93,7% da atividade está, hoje, concentrada na região amazônica. Segundo o estudo, em 2020, metade da área nacional do garimpo estava em unidades de conservação ou terras indígenas.
Em relação aos territórios indígenas, as terras Kayapó (7.602 ha) e Munduruku (1.592 ha), no Pará, são as mais afetadas pela extração predatória. Em terceiro lugar estão as terras Yanomami (414 ha), nos estados do Amazonas e Roraima. Das dez unidades com maior concentração de garimpos, oito ficam no estado do Pará, com destaque para a Área de Proteção Ambiental do Tapajós (34.740 ha), a Flona do Amaná (4.150 ha) e o Parna do Rio Novo (1.752 ha), que são as três com as maiores áreas invadidas por garimpeiros.
Conservação
Na última semana, outro estudo do MapBiomas revelou que as terras indígenas são as áreas mais preservadas do Brasil. Na análise das mudanças da cobertura do solo ao longo dos últimos 35 anos, a pesquisa verificou apenas 1,6% da perda de Florestas e Vegetação Nativa no Brasil nas terras ocupadas pelos povos originários.
Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, a estatística comprova o valioso serviço que as comunidades indígenas prestam ao Brasil:
“Se queremos ter chuva para abastecer os reservatórios que provêm energia e água potável para consumidores, indústria e o agronegócio, precisamos preservar a floresta amazônica. E as imagens de satélite não deixam dúvidas: quem melhor faz isso são os indígenas”, comentou.
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Sobre a escalada do garimpo sobre áreas indígenas na última década, o estudo compreende que a valorização das chamadas “commodities”, com alta no preço do ouro, ferro e cobre, foi um fator importante para o crescimento. Contudo, para além disso, um estudo do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) e do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais (Lagesa) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela que a falta de fiscalização pelos órgãos públicos responsáveis pode ter contribuído decisivamente para a expansão da atividade garimpeira.
De acordo com a pesquisa da UFMG, durante os dois primeiros anos do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o número de autos de infração por “crimes contra a flora” (desmatamento, queimada ou garimpo irregular, por exemplo) na Amazônia Legal tiveram queda de 43,5%. Foram 2.610 autos registrados por ano de 2019 a 2020. A média anterior, do período de 2012 a 2018, era de 4.620 por ano.