Redação
Com um desfile praticamente perfeito – que lhe rendeu 269.8 dos 270 pontos possíveis – a Imperatriz Leopoldinense se consagrou a grande campeã do Carnaval carioca em 2023. Após um jejum de 22 anos, a verde, branco e ouro de Ramos conquistou o nono título da Série Ouro com um enredo sobre um dos mais importantes personagens da cultura popular brasileira e, em especial, do povo nordestino: Virgulino Ferreira, o Lampião.
Com mais de três mil componentes divididos em 24 alas, a escola celebrou a herança cultural do Rei do Cangaço colorindo a Marquês de Sapucaí com mandacarus, mamulengos, bandos de cangaceiros, cordéis, repentistas, carpideiras, beatos, santos, anjos e demônios. Até na bateria foram incluídos instrumentos como o triângulo e a zabumba.
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De autoria do carnavalesco Leandro Vieira – campeão em 2016 e 2019 pela Mangueira – o enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida” foi inspirado nas histórias do cordelista pernambucano José Pacheco. Na trama contada na avenida, Lampião, após sua morte (em 1938), é expulso do inferno e do céu até que, enfim, se eterniza no imaginário da cultura popular.
Além das típicas paisagens e personagens sertanejos, a Imperatriz também destacou referências da história e da arte do Nordeste como o Rei do Baião Luiz Gonzaga, o poeta Patativa do Assaré, o escritor Ariano Suassuna, o ceramista popular mestre Vitalino e o sacerdote católico, padre Cícero.
O desfile ainda contou com a presença especial de Expedita Ferreira da Silva, filha de Lampião e Maria Bonita. Os dois personagens foram encenados pelos atores Matheus Nachtergaele e Regina Casé.
Em entrevista concedida à TV Globo logo após a passagem da escola na avenida, o ator fez questão de exaltar as lutas do povo nordestino tanto no passado como no atual momento do país.
“Esse Carnaval é muito importante e estar num desfile, no caso da Imperatriz, fazendo o Lampião, que é um mito nordestino, me alegrou porque eu quero agradecer muito ao nordeste por nos livrar do fascismo”, comentou em referência às eleições gerais de 2022.
Comunidade
A força da comunidade da chamada zona da Leopoldina também foi um dos destaques do desfile. A rainha de bateria Maria Mariá, por exemplo, desfilou com uma coroa em formato de boné com a sigla CPX, em alusão ao Complexo do Alemão, um dos maiores conjuntos de favela da zona norte carioca.
O boné se tornou uma espécie de símbolo político durante as eleições de 2022 após ser usado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua passagem pela comunidade durante a campanha eleitoral. Na época, a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a divulgar informações falsas alegando que o adereço seria um símbolo atrelado a grupos criminosos.
Em entrevista à Globo, o carnavalesco Leandro Vieira comentou sobre a forte relação da verde, branco e ouro com as comunidades da região.
“A Imperatriz vive um momento muito feliz, de flerte com a sua comunidade. A Imperatriz vive um momento de namoro com o maior complexo de favelas da cidade. E que faz parte do seu território. A Imperatriz flerta com um subúrbio e com essa comunidade que canta, que brinca e que dança”, pontuou.
Nas redes, a agremiação também reforçou: “Ainda sem acreditar que a nona estrela chegou em Ramos. Nossos sinceros agradecimentos à comunidade maravilhosa que nós temos. O campeonato é nosso! É do CPX! É de toda a zona da Leopoldina”.
Campeãs
No próximo sábado (25), a Imperatriz Leopoldinense volta a se apresentar no desfile das campeãs. A festa será aberta pela Acadêmicos do Grande Rio (6ª colocada), seguida pela Estação Primeira de Mangueira (5ª), Beija-Flor de Nilópolis (4ª) e Unidos de Vila Isabel (3ª). A Imperatriz encerrará o desfile após a vice-campeã Unidos do Viradouro.
*Com informações do Extra, Folha de S. Paulo e G1
Edição: Jaqueline Deister