Atualizada em 15/09/22 às 19:11
Na última terça-feira (13), mais um indígena Guarani-Kaiowá foi morto por pistoleiros no Mato Grosso do Sul. Vitorino Sanches, de 60 anos, foi assassinado com cinco tiros à queima roupa nas costas. O crime foi cometido por volta das 16h30, no centro de Amambai, município que fica a cerca de 350km da capital Campo Grande.
Os atiradores fugiram de moto e até o momento não foram identificados. A vítima chegou a ser conduzida para o Hospital Regional da cidade, mas não resistiu aos ferimentos.
O atentado foi o segundo cometido contra o indígena. Em agosto, Vitorino sobreviveu a uma emboscada em que seu carro foi alvejado com mais de 10 tiros. Na ocasião, o comerciante e agricultor foi atingido no braço e na perna.
De acordo com a Polícia Civil, ainda não é possível afirmar se há ligação entre os dois atentados. “Desde a tarde de ontem algumas linhas de investigação estão sendo averiguadas, mas nada mais concreto pode ser passado sem risco de atrapalhar as investigações”, informou o órgão à reportagem.
Onda de ataques
Embora tenha se candidatado a vereador nas eleições de 2016, representantes dos Guarani-Kaiowá na região de Amambai afirmam que Vitorino, além de liderança entre os indígenas, atuava no comércio. “Ele tinha um mercadinho, mas aqui em Amambai está difícil mesmo. O pessoal já está atirando em qualquer um”, disse um indígena à Pulsar.
Segundo o informante, que preferiu não ter a identidade revelada, existem suspeitas de que o assassinato tenha sido motivado pelo fato do comerciante doar, regularmente, alimentos para famílias indígenas.
“Aqui ainda está tenso. Todo mundo na aldeia está de luto. Isso não é de hoje que está acontecendo, já aconteceu há alguns meses. Esta é a terceira vítima, já. Então abalou todo mundo. As escolas estão todas paradas aqui. Porque ele era muito conhecido aqui na aldeia. A gente teme muito que volte a acontecer com qualquer um de nós. Ainda mais quem está na linha de frente”, relatou à reportagem.
“Essa já é a quinta pessoa morta na região. Existem relatos de mulheres e meninas que foram estupradas por pistoleiros. E não houve uma justiça para investigar esses casos. Muitos casos ficam impunes devido a essa disputa de quando voltamos para o território. Então os ataques continuam muito aqui. A gente está vivendo aqui sob fortes ameaças”, acrescentou.
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Em junho, Vitor Fernandes, de 42 anos, foi assassinado durante o ataque que ficou conhecido como “massacre de Guapoy”. Na ocasião, policiais militares e fazendeiros invadiram a área do território tradicional Guapoy, em Amambai, que havia sido retomada um dia antes pelos Guarani-Kaiowá. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), além da morte de Vitor, os disparos de tiros de borracha e armas de fogo deixaram dezenas de feridos, inclusive crianças e anciãos. No mês seguinte, o líder indígena Márcio Moreira foi morto a tiros também em Amambai.
Mato Grosso do Sul
De acordo com relatório “Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil”, produzido pelo Cimi, o Mato Grosso do Sul é o segundo estado com maior número de indígenas assassinados em 2021, atrás apenas do Amazonas. Segundo o levantamento, o estado é responsável por 35 dos 176 assassinatos registrados em todo o país no último ano.
Em 2022, além das vítimas de Amambai, também foram registradas no estado as mortes de Ariane Oliveira Canteiro, indígena de 13 anos encontrada morta no último dia 11, em uma propriedade próxima à Reserva Indígena de Dourados, e Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, Guarani-Kaiowá assassinado em maio após retomada de terra no município de Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai.
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Na última terça-feira, após o assassinato de Vitorino, a “Aty Guasu – a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá” publicou nas redes sociais:
“Não suportamos mais tanta dor e luto, precisamos de apoio e proteção, já são meses de ataques e assassinatos presentes em nossos territórios, pedimos apoio e que esse genocídio contra nossos irmãos e irmãs acabe, estamos cansados de tanta dor e perseguição”.
A Pulsar Brasil solicitou à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul (Sejusp-MS) esclarecimentos sobre as medidas que têm sido adotadas para frear os ataques, elucidar os crimes cometidos e garantir a segurança dos povos indígenas no estado.
O órgão informou que ” a Sejusp vem trabalhando para melhorar a segurança em áreas indígenas, tendo inclusive, por meio da Coordenadoria de Polícia Comunitária, criado os Conselhos Comunitários de Segurança Indígena, composto por membros natos da segurança pública e por indígenas – como membros efetivos”.
A Secretaria afirmou ainda à reportagem que “doou 6 viaturas para os Conselhos Comunitários Indígenas, que atuam diretamente nas ações preventivas dentro das comunidades indígenas de Dourados – nas duas aldeias, bem como em Caarapó, Douradina e Japorã”.
De acordo com a nota enviada à Pulsar, “há em todas as cidades – inclusive aquelas onde existem aldeias, os policiamentos preventivos, feitos diuturnamente pela Polícia Militar e o policiamento repressivo, realizado pela Polícia Civil, que investiga todos os crimes, identifica e prende os autores”.
Edição: Jaqueline Deister