Por Filipe Cabral
Estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais, falta de insumos e “desassistência generalizada”. Estes foram alguns dos problemas destacados pelas equipes do Ministério da Saúde no relatório “Missão Yanomami”, divulgado na última semana.
O documento reúne dados levantados entre 15 e 25 de janeiro de 2023 e revela com detalhes a situação dramática dos mais de 30,4 mil habitantes que vivem na maior reserva indígena do país. Entre os lugares visitados pelas equipes estão a Casa de Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista, em Roraima, o polo base Surucucu e polo base Xitei, ambos situados dentro da Terra Indígena Yanomami (TIY).
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Na Casai, por exemplo, o relatório descreve que, além de banheiros e alojamentos com estruturas danificadas, as malocas ou chaponas onde os indígenas ficavam se encontravam “muito sujas, com fezes por todo lado” e com “esgoto a céu aberto em vários pontos da área”. Segundo o documento, quando as equipes do Ministério da Saúde chegaram, a Casai, que tem capacidade para cerca de 200 pessoas, abrigava mais de 700, entre pacientes e acompanhantes.
O relatório também destaca a falta de insumos que vão desde medicamentos básicos até equipamentos para remoções de emergência como carrinho de parada, oxigênio medicinal em cilindro pequeno, desfibrilador automático externo (DEA) e suporte de soro. No polo base Surucucu, as equipes de profissionais da Saúde chegaram a se deparar com fogueiras feitas pelos indígenas para amenizar o frio dos pacientes.
Desassistência
De acordo com o relatório, os casos severos de desnutrição e malária, inclusive entre idosos e crianças, foram os principais problemas de saúde verificados nas visitas. Também foram registrados casos de Infecção Respiratória Aguda (IRA) e outros agravos.
Neste sentido, os profissionais pontuam no documento que as principais causas de óbitos na região poderiam ser evitadas por medidas simples de prevenção, em especial no caso da desnutrição. As equipes do Ministério da Saúde também ressaltam a queda paulatina das coberturas vacinais, que passaram de mais de 80% em 2018 para 66% em 2019, 68% em 2020, 73% em 2021 e 53% em 2022.
Além do quadro de “desassistência”, de acordo com o Ministério da Saúde, “a situação em toda a TI Yanomami é de insegurança”, com quatro polos de atendimento fechados pelo garimpo na região de Surucucu e três em outras localidades devido a “graves ameaças”. O relatório descreve, inclusive, que “um polo foi reformado para reabertura, mas não se consegue abrir pela insegurança”.
Confira o relatório na íntegra.
Emergência
A crise na saúde indígena tem preocupado a atual gestão do governo federal desde o levantamento de dados durante a transição de governo, no final de 2022. De acordo com o Ministério da Saúde, o relatório Missão Yanomami “foi o primeiro passo rumo à reparação de um quadro que todos os profissionais definem como ‘cenário de guerra’”.
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No dia 20 de janeiro, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, declarou a situação dos Yanomami como quadro de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Esin). Além da declaração de emergência, o Ministério instalou também o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE – Yanomami), que é o atual responsável por coordenar medidas como a mobilização de recursos e a articulação com gestores estaduais e municipais do SUS.
De acordo com o Ministério, as informações fornecidas pelo relatório Missão Yanomami têm servido de base para os quatro grupos de trabalho do COE: alimentação e nutrição; insumos; infraestrutura; e tecnologia e informação.
Ainda segundo a pasta, desde a instalação do COE mais de 3,7 mil cestas básicas foram entregues nas regiões de Auaris e Surucu e a previsão é de que outras 4,9 mil cestas sejam enviadas nos próximos dias. O Centro de Operações também conseguiu a doação de 200 m³ de oxigênio medicinal e a mobilização de mais um hospital de campanha junto ao Ministério da Justiça, além de estruturas de comunicação para facilitar a comunicação das equipes de campo.
Outros órgãos do governo federal também tem atuado na região. É o caso do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que determinou, no último dia 30, a criação de um grupo de trabalho para elaborar medidas de combate ao garimpo ilegal em terras indígenas.
Edição: Jaqueline Deister