Redação
A jornalista palestina Shireen Abu Akleh foi morta a tiros nesta quarta-feira (11) enquanto cobria uma operação do Exército israelense em um acampamento de refugiados palestinos na cidade de Jeninin, na Cisjordânia.
Com mais de 30 anos de carreira, a correspondente da rede televisiva Al Jazeera usava um colete à prova de balas com a identificação de imprensa, mas foi atingida por um disparo no rosto. A repórter chegou a ser conduzida com vida a um hospital na região, mas não resistiu.
Segundo jornalistas que estavam com Abu Akleh no local, não havia confrontos nem palestinos armados na área no momento do ataque e os militares israelenses sequer pediram às equipes de imprensa para sair ou parar de filmar antes de começarem a atirar. Ali al-Samoudi, que também trabalha para a Al Jazeera e acompanhava Abu Akleh, chegou a ser atingido nas costas, mas foi socorrido a tempo e apresenta quadro estável de saúde.
Leia mais: Associada da Amarc lança documentário sobre violência online contra jornalistas
Em comunicado publicado após a morte da jornalista, a Al Jazeera acusou as forças israelenses de “assassinato a sangue frio”. A emissora sediada no Catar classificou o ataque como um “assassinato flagrante que viola as leis e normas internacionais”.
A Al Jazeera também citou o depoimento de Shatha Hanaysha, jornalista local que acompanhava a operação ao lado de Abu Akleh:
“Éramos quatro jornalistas, todos com coletes e capacetes. O Exército da ocupação [israelense] não parou de atirar mesmo depois que ela caiu. Não consegui nem estender o braço para puxá-la por causa dos tiros. O Exército foi inflexível em atirar para matar” afirmou a comunicadora ao canal árabe.
As autoridades israelenses, contudo, negaram a responsabilidade pela morte da repórter palestina. O primeiro-ministro israelense Naftali Bennett chegou a dizer que é “provável” que os disparos que atingiram Abu Akleh tenham partido de palestinos armados. Segundo ele, haveria informações de que um grupo de palestino estaria “atirando indiscriminadamente” no local onde a jornalista foi morta.
Com tom mais conciliatório, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Yair Lapid, propôs uma investigação conjunta com autoridades palestinas. A oferta, porém, foi rebatida pelo porta-voz da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Ibrahim Milhim, que disse que seu governo rejeita qualquer participação de Israel nas investigações sobre a morte da jornalista. Segundo a ANP, que administra partes da Cisjordânia ocupada e coopera com Israel em questões de segurança, o “assassinato” de Abu Akleh “faz parte da política da ocupação de atacar jornalistas para obscurecer a verdade e cometer crimes silenciosamente”.
Leia mais: Organizações lançam Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores
O enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para processo de paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, também condenou o caso e pediu que os responsáveis sejam penalizados. De acordo com ele, “trabalhadores da mídia nunca devem ser alvos”.
O Sindicato dos Jornalistas da Palestina denunciou a morte de Abu Akleh como “um claro assassinato perpetrado pelo exército de ocupação israelense”. Da mesma forma, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) informou, em comunicado, que levará a denúncia ao Tribunal Penal Internacional.
Trajetória
Nascida em 1971 em uma família cristã na parte ocupada de Jerusalém, a palestina Shireen Abu Akleh também tinha cidadania americana e estudou Jornalismo na universidade Yarmouk, na Jordânia.
Ao concluir o curso, ela fundou a rádio “Voz da Palestina”, com sede em Ramallah, cidade palestina que fica a 15 quilômetros ao norte de Jerusalém. Shireen começou a trabalhar para a Al Jazeera em 1997, um ano após a inauguração da emissora, onde se tornou uma das principais repórteres responsáveis pela cobertura do conflito israelo-palestino.
Desde 1967 o território da Cisjordânia, onde Abu Akleh foi morta, é ocupado pelas forças militares israelenses. Segundo levantamento da WAFA, agência de notícias oficial da ANP, somente em 2021, foram registradas 384 violações a jornalistas que trabalhavam em zonas palestinas ocupadas por Israel.
*Com informações do Brasil de Fato e O Globo
Edição: Jaqueline Deister