Na tarde da última quarta-feira (3), a Jornada de Lutas Rio 2016-Os Jogos da Exclusão contou com uma roda de conversa sobre a limpeza social da cidade olímpica. A violência da prefeitura contra trabalhadores ambulantes e a população em situação de rua é uma pauta que não poderia faltar. Com a justificativa de colocar “ordem” no espaço público, o direito ao trabalho, à moradia e até mesmo a livre circulação pelos pontos mais ricos da cidade tem sido violado constantemente.
Realizador de diversos curtas que abordam as temáticas da cidade e os dramas vivenciados por aqueles que são praticamente expulsos dos espaços públicos, Vladimir Seixas trouxe diversas passagens que soam como absurdas, mas que fazem parte da rotina do Rio. Um dos fatos que mais chamou a atenção e que Vladimir transformou em filme foi o de um sistema criado em um condomínio de Copacabana para “fazer chover” embaixo de uma marquise e afastar, assim, possíveis moradores de rua do local.
A representante do Movimento Unificado dos Camelôs (Muca), Maria dos Camelôs, também esteve presente. Ela relatou que pensava que nada seria pior do que os confrontos impostos pela Guarda Municipal durante o governo Cesar Maia, que foi prefeito do Rio de Janeiro por três mandatos. Entretanto, com a chegada de Eduardo Paes, Maria mudou de ideia.
Maria dos Camelôs conta que a repressão vivida desde os Jogos Pan-americanos veio também com a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Para ela, o modelo de cidade que a prefeitura quer não inclui ambulantes. O objetivo é uma limpeza urbana.
O vereador Renato Cinco (PSOL) abordou a questão da guerra às drogas como elemento de limpeza social e o histórico racista deste combate. Já seu colega na Câmara de Vereadores, Reimont (PT), fez um panorama das ações institucionais para os três pontos que considera importantes nesse debate: regularização dos camelôs, população em situação de rua e o direito à moradia.
Rita Cavalcante, da Frente Estadual de Drogas e Direitos Humanos, também trouxe ao debate elementos acerca da atual política para a população de rua e os direitos humanos negligenciados. Para ela, a política é de afastar as pessoas dos “lugares reconfigurados na cidade” para realização de grandes negócios. A assistente social caracterizou o “acolhimento compulsório” como uma medida para deslocar a população de rua para os bairros distantes do Centro e da Zona Sul.
Já pensando nas próximas eleições municipais, os camelôs também elaboraram uma carta a ser entregue as candidatos. O documento reivindica coisas como mudanças na lei, a retirada da Guarda Municipal da fiscalização e um novo cadastramento que atenda quem realmente trabalha na rua. Maria denuncia que pessoas que conseguiram se cadastrar e não trabalham como camelôs alugam suas licenças e exploram os verdadeiros ambulantes. (pulsar)
*Com informações da Jornada de Lutas Rio 2016-Os Jogos da Exclusão