Redação
Um levantamento divulgado na última semana pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) aponta que no primeiro semestre de 2022 foram registradas 759 ocorrências de conflitos no campo no Brasil, envolvendo um total de 113.654 famílias.
Segundo a pesquisa, a Amazônia Legal responde por mais da metade do total de conflitos e as principais vítimas são indígenas, quilombolas, sem-terras, posseiros e assentados. A CPT também chama atenção para os 25 assassinatos decorrentes de conflitos no campo registrados no primeiro semestre. Segundo a comissão, o número corresponde a um aumento de 150% em comparação com o mesmo período de 2021.
Conflitos por terra
Das 759 ocorrências identificadas pela CPT, 601 se referem a conflitos por terra, 105 a conflitos pela água, 42 a conflitos trabalhistas, 10 a conflitos em tempos de seca e uma a conflitos em área de garimpo.
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Em relação aos conflitos por terra, das 601 ocorrências, 554 foram referentes a violências contra famílias e/ou pessoas, 45 a ocupações e retomadas de territórios e duas em situações de acampamentos rurais. Segundo a CPT, 4.981 famílias sofreram ameaça de expulsão e 1.964 tiveram seus roçados destruídos nos seis primeiros meses deste ano. Neste último ponto, destacam-se os casos de contaminação por agrotóxico, que atingiram 5.637 famílias em todo Brasil. De acordo com a Comissão, além de atentar contra a saúde dos povos e comunidades do campo, esse tipo de violência “ocasiona também a contaminação das águas e dos alimentos saudáveis que abastecem as mesas da sociedade brasileira”.
Entre os causadores dos conflitos por terra, na dianteira das ações está o governo federal (com mais de 25% das violências cometidas), seguido por fazendeiros, empresários, grileiros e madeireiros. Ainda neste campo, o levantamento ressalta que 31.380 famílias foram vítimas de violências causadas por omissão ou conivência de órgãos do poder público. Nesses casos, o governo federal foi responsável por 78,6% do total de ocorrências.
Modus Operandi
Segundo a CPT, os conflitos no campo em 2022 já resultaram em 33 assassinatos, sendo 25 deles cometidos no primeiro semestre e a maior parte (30,3%) relacionados à pistolagem.
O levantamento destaca que de janeiro a junho cinco mulheres foram assassinadas em conflitos no campo, o maior número registrado desde 2016. Além do crime de homicídio, as mulheres também foram vítimas de ameaças de morte, intimidação e tentativa de assassinato.
Na conta geral, os principais tipos de violência contra as pessoas registrados no primeiro semestre de 2022 foram prisões (16,8%) tentativas de assassinato (10,3%), intimidação (9,3%) e ameaça de morte (9,3%).
Amazônia Legal
Ao analisar os dados referentes à Amazônia Legal, a CPT verificou um aumento de 33% no registro de conflitos no campo em relação ao primeiro semestre de 2021. Foram 425 ocorrências envolvendo 65.974 famílias, o que representa 55,8% de todos os conflitos no campo registrados no país.
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As maiores vítimas dos conflitos por terra registrados na Amazônia Legal foram os indígenas (36%), seguidos pelos quilombolas (25%), e pelos posseiros (13%).
Edição: Jaqueline Deister