Redação
Um levantamento realizado pelo Mapbiomas com base em imagens de satélite revela que aproximadamente um quarto (25,59%) das áreas da Caatinga foram modificadas pela ação do homem nos últimos 37 anos.
Entre as transformações, destacam-se os mais de 13 mil hectares de área queimada, o que corresponde a mais 15% do território ocupado pelo bioma, e a redução de seis milhões de hectares de mata nativa, área maior que os estados de Sergipe e Alagoas juntos.
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O projeto Mapbiomas Brasil analisa a transformação do território brasileiro desde 1985 através de mapeamentos anuais da cobertura e uso do solo e monitoramos da superfície de água. Ainda sobre as mudanças na Caatinga, o estudo divulgado esta semana aponta que o bioma perdeu mais de 160 mil hectares de superfície de água – um decréscimo de 16,75% em relação ao cenário na década de 1980. Com exceção de Sergipe, todos os nove estados da Caatinga tiveram redução de superfície de água.
Segundo o levantamento, o principal motor de avanço sobre a vegetação nativa foi a agropecuária, que cresceu um quarto da sua área na região e ganhou 6,7% de território, o que equivale a 5,7 milhões de hectares. No Ceará, por exemplo, o crescimento das áreas de pastagens nesse período foi superior a 320%. Na Paraíba e Rio Grande do Norte, as pastagens mais que dobraram (125% e 172%, respectivamente). No sudeste, durante o período mapeado a agricultura cresceu 131% em Minas Gerais.
Desertificação
De acordo com Washington Rocha, coordenador da Equipe Caatinga do MapBiomas, a rápida transformação da Caatinga tem colocado a própria existência do bioma em risco, com mudanças acentuadas em algumas regiões e o aparecimento de “núcleos de desertificação”.
“Mapeamos a região de Irauçuba, no Ceará, e detectamos a expansão de um núcleo de desertificação. Padrão semelhante foi observado em outros núcleos de desertificação, como em Cabrobó (PE), com tendência de expansão para leste, no sentido de Alagoas, e em Seridó (RN), verifica-se expansão para sul em direção à Paraíba. Além dos núcleos de desertificação, é possível monitorar com os dados do Mapbiomas as ASD´s (áreas suscetíveis à desertificação), como Jeremoabo, na Bahia. Este é um exemplo de como a transformação da Caatinga coloca o bioma em risco”, comentou.
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Com mais de 844 mil quilômetros quadrados (quase 10% do território nacional), a Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que se estende por nove estados. Destes, cinco têm mais de 50% de seu território no bioma: Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, o único que fica integralmente dentro do bioma. Responsável por 40,7% do território da Caatinga, a Bahia é o estado com maior área do bioma.
Atualmente, cerca de 30,5% do território da Caatinga – mais de 26 milhões de hectares – é classificado como Reserva da Biosfera, o que significa que são áreas especialmente designadas para aliar a conservação ambiental e o desenvolvimento humano sustentável. Contudo, de acordo com o Mapbiomas, mesmo essas áreas tiveram perdas de 7,6%, sendo ocupadas por agricultura (2%) e pastagens (5,6%).
As Unidades de Conservação, por sua vez, ocupam 9,01% do bioma (7,8 milhões de hectares) e perderam 3,3% de sua área. Do outro lado, a agricultura e a pastagem ganharam 1,42% e 2,06%, respectivamente.
O Mapbiomas Brasil é sustentado por uma rede colaborativa formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia. Além de produzir mapeamentos e relatórios anuais sobre a transformação do território brasileiro, o projeto busca “tornar acessível o conhecimento sobre a cobertura e o uso da terra, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas”.
Edição: Jaqueline Deister