As palavras de ordem e os cantos das margaridas que ocuparam Brasília na última quarta-feira (16) seguem ecoando na agenda política do país. Nas próximas semanas, um Grupo de Trabalho deve ser criado na Câmara dos Deputados para acompanhar as demandas legislativas apresentadas pela sétima edição da Marcha das Margaridas, que levou mais de 100 mil trabalhadoras do campo e da cidade para a capital federal.
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Entre os principais pontos de enfrentamento da agenda legislativa das mulheres estão o chamado “Pacote do Veneno”, o Projeto de Lei (PL) 1459/2022, que substitui na indústria a denominação “agrotóxicos” por “pesticidas”, podendo causar mais danos para a saúde e o meio ambiente; o PL 2159/2021, que flexibiliza o licenciamento ambiental e coloca em risco recursos naturais considerados fundamentais para comunidades pesqueiras e outros grupos; e o PL 2633/2020, conhecido como “PL da Grilagem”, que pode abrir caminho para anistiar grileiros e criminosos ambientais localizados, especialmente, na Amazônia.
Quem são as margaridas?
As margaridas vêm de longe para fazer valer a sua voz junto aos poderes Executivo e Legislativo do país. As trabalhadoras não medem esforços para compor a Marcha que a cada quatro anos reúne mulheres do campo, das águas, da floresta e das cidades.
Maria Rosária Souza Guzzo é um exemplo disso. A representante do Movimento de Mulheres de Anapu viajou cerca de dois mil quilômetros para participar da Marcha. O município de Anapu, no Pará, é um território marcado pelo conflito no campo e violência. No local, há 18 anos, a missionária Dorothy Stang foi assassinada por defender o direito à terra e a proteção da floresta.
“Estamos atrás de políticas públicas que venham nos favorecer, contra o desmatamento que é demais. Dorothy morreu por isso e continuamos essa luta. Levamos três dias de viagem, foi difícil, mas muito alegre e fortalecedor”, disse Maria Rosária, que também integra o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu.


Outra Maria, que também veio de longe lutar por direitos, foi Maria Soares Gomes, mais conhecida como Comadre Guerreira, presidenta da Associação de Mulheres Guerreiras Indígenas Potiguara (AMGIP) e representante de 13 aldeias dos municípios de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação no estado da Paraíba. A Terra Indígena Potiguara é constituída por 5072 habitantes, dos quais 3093 residem no município de Baia da Traição.
“Temos vindo em várias Marchas porque é durante o movimento que a gente consegue os nossos direitos, alcança o nosso espaço, melhora a vida de alguém. É lutando, chegando aqui e pedindo aos políticos que respeitem o nosso povo, que valorizem e que nos levem projeto de sustentabilidade para as nossas famílias potiguaras”, comentou Guerreira.


Pelas ruas de Brasília marchando neste ano estavam presentes também mulheres de outras nacionalidades, que vieram se somar à luta das margaridas e buscar inspiração no movimento para seus países. Um exemplo foi a boliviana Carmén Vargas, que integra a Confederação Sindical de Mulheres de Comunidades Interculturais de Bolívia.
“É importante participar da luta dessas irmãs e revolucionárias que são as margaridas, que lutam com muita força pelos direitos das mulheres, contra homicídios e violência em nível mundial. Para a gente, as margaridas são um modelo a seguir. Mulheres que lutam por um bem viver em harmonia com a natureza, com a Mãe Terra. É uma alegria ser parte desta Marcha como mulher boliviana e campesina”, destacou à Pulsar.


Especial
A cobertura jornalística “Especial Margaridas 2023: Mulheres pelo Bem Viver” é uma realização da Agência Informativa Pulsar Brasil, um programa da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc Brasil), em parceria com o Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e o apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese).
Edição: Filipe Cabral