Um monitoramento produzido pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social revela que 43 candidaturas registradas para concorrer às Eleições 2022 são ligadas a programas policiais, popularescos ou se beneficiaram deles para a realização de campanhas políticas. O número é quase o dobro do registrado em 2018, nas últimas eleições gerais, quando foram identificadas 23 candidatos e candidatas com perfis policialescos.
Segundo o levantamento, a distribuição dessas candidaturas pelos estados brasileiros também aumentou. Enquanto em 2018 tais candidaturas apareciam em 10 estados, em 2022 elas abrangem 14 estados brasileiros Bahia, Paraíba, Ceará, Pernambuco, Piauí, Amazonas, Pará, Roraima, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e o Distrito Federal.
Leia mais: Ruralômetro: ferramenta digital permite identificar políticos brasileiros com “febre ruralista”
As informações são do especial “Eleições 2022: A mídia como palanque”, que apresenta dados do projeto Mídia Sem Violações de Direitos, levantamento permanente realizado pelo Intervozes a cada ano eleitoral. De acordo com o coletivo, em 2022, o projeto buscou por candidaturas ao Governo do Estado, Assembleias Legislativas estaduais, Câmara dos Deputados, Senado e suas suplências, além de pesquisar os programas policialescos de TV das 10 maiores cidades, em número de habitantes, de cada estado.
Ainda segundo o mapeamento, a esmagadora e quase metade (17) são de partidos que compõem base aliada do atual presidente da República e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), como o PP (4), PL (5) e Republicanos (8). Desses, ao menos 13 são apresentadores de programas na Rede Record.
Os demais partidos com candidaturas de perfis policialescos são: PSD (7), União Brasil (4), Solidariedade (3), Avante (2), MDB (2), PSDB (2), PDT (2), Cidadania (1), Podemos (1), Patriota (1) e PTB (1).
Propaganda
Além disso, das 43 candidaturas identificadas pela pesquisa, apenas 12 participam pela primeira vez de um pleito eleitoral. Segundo o Intervozes, o grande número de candidaturas policialescas experientes “revela uma fragilidade no sistema midiático e político do país”, pois os programas comandados pelos policialescos “tornam-se instrumento de propaganda eleitoral antecipada, na medida em que suas ideias e apoiadores são projetados diariamente por meio de concessões públicas de rádio e TV pouco fiscalizadas”.
“Esse levantamento demonstra o quanto ainda é difícil falar em democracia e participação social quando a gente tem um sistema eleitoral dominado por poucas famílias. Famílias de tradição colonial e que são detentoras das propriedades de mídia no Brasil”, destacou à Pulsar a jornalista e uma das coordenadoras da pesquisa, Tâmara Terso.
Em relação candidatos monitorados que já são parlamentares no Congresso Nacional, a pesquisadora ressaltou que eles estariam “infringindo o artigo 54 da Constituição Federal que proíbe que senadores e deputados federais sejam detentores de propriedade de radiodifusão, uma vez que essas propriedades são concessões públicas”
“Essas concessões públicas de rádio e TV são serviços públicos que não podem estar na mão de políticos pelo próprio conflito de interesses que isso apresenta para a democracia. São políticos que têm uma visibilidade permanente, suas pautas estão a todo momento nas suas redes de TV e rádio, enquanto um conjunto grande de outros candidatos e candidatas não têm o mesmo espaço nessas mídias”, explicou à Pulsar.
“Muitos deles já estão no quarto ou quinto mandato. Eles têm um processo de revezar os mandatos. Em um momento são deputados estaduais, em outro momento são deputados federais, em outros momentos saem governadores e governadoras, candidatos ao Senado”, acrescentou.
Crimes
Segundo Tâmara, além de violar quase que diariamente os direitos humanos com discursos violentos, de ódio, racistas, misóginos e lgbtfóbicos, os candidatos policialescos “também estão num processo grande de intersecção com o crime no Brasil”.
“Muitos deles têm uma ficha corrida enorme. Estão envolvidos com lavagem de dinheiro, com violência contra mulher. Alguns são, inclusive, processados por assassinatos”, detalhou a jornalista.
Os dados completos do monitoramento “Eleições 2022: A mídia como palanque” estão disponíveis na página do Intervozes e começaram a ser publicados em uma série de reportagens especiais no Le Monde Diplomatique.
A pesquisa foi coordenada por Tâmara Terso e Olívia Bandeira, e os dados foram coletados a partir de um trabalho coletivo que envolveu a colaboração das/os pesquisadores: Jonaire Mendonça, Iago Vernek, Iury Batistta, Mabel Dias, Nataly Queiroz, Paulo Victor Melo, Raquel Baster e Sheley da Silva.
Edição: Jaqueline Deister