O ex-deputado federal David Miranda (PDT-RJ) morreu na manhã desta terça-feira (9) após nove meses internado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, para tratar uma infecção gastrointestinal que evoluiu para um quadro de septicemia, ou seja, uma infecção generalizada.
O anúncio da morte do político foi feito pelo seu marido Glenn Greenwald. No Twitter, o jornalista, casado há 17 com David, relatou que o ex-parlamentar morreu ao lado da família. “Seu falecimento nesta manhã vem depois de uma luta de 9 meses no CTI. David passou em paz, cercado de nossos filhos, familiares e amigos”, disse.
Glenn ressaltou a luta do marido pela vida, o amor que tinha pela família e a trajetória do político nascido na favela do Jacarezinho, na zona Norte do Rio, que chegou ao posto de deputado federal. “O primeiro homem abertamente gay eleito vereador do Rio, e depois deputado. Sua biografia, paixão e força inspira muitos”, destacou o marido que prometeu manter o legado do companheiro.
A amiga e vereadora pelo Rio de Janeiro, Mônica Benício (Psol), também usou as redes sociais para se despedir do ex-deputado federal.
“Eu não sei como vou fazer pra seguir sem esse grande amor, parceiro, irmão. Não sei como vai ser viver num mundo sem Marielle e sem David. Mas seja lá como for, será honrando seu nome, a nossa amizade, e nosso amor. David, fica bem, meu amor”, lamentou a arquiteta.
O presidente Lula também usou as redes sociais para homenagear o político. “Meus sentimentos ao @ggreenwald e familiares pela perda de David Miranda. Um jovem de trajetória extraordinária que partiu cedo demais”, escreveu.
O ciberativista Edward Snowden, que tornou público o sistema de espionagem do serviço secreto dos Estados Unidos em 2013 com a ajuda de Gleen e David, também lamentou a morte precoce do político.
“Notícia de partir o coração. De todos que participaram das revelações de 2013 sobre vigilância em massa global, meu querido amigo David Miranda foi talvez o mais justo e puro. Jamais esquecerei que quando o Reino Unido quebrou suas próprias leis para deter David como um “terrorista” por ousar ajudar um ato de jornalismo – e ameaçou jogá-lo em uma masmorra pelo resto de sua vida – ele nunca vacilou. Em vez disso, ele os desafiou a fazê-lo. Foi essa coragem que o libertou. Essa coragem que moveu a história adiante. Isso servirá para sempre como o exemplo de um homem no seu melhor. Vou sentir sua falta, Davi. Mantenha-se livre”, disse Snowden.
História
David nasceu na favela do Jacarezinho, na zona Norte do Rio de Janeiro. Sua mãe morreu quando tinha apenas cinco anos. Órfão, foi adotado por uma vizinha que, mesmo em situação de pobreza e já tendo outros quatro filhos, assumiu a sua criação.
Começou a trabalhar com nove anos, passou pelas funções de office boy, entregador de panfletos e operador de telemarketing. Já adulto estudou na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e passou a atuar nas áreas de Jornalismo e Marketing.
Em 2016, o ativista foi eleito vereador pela cidade do Rio de Janeiro junto com Marielle Franco pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Ambos tornaram-se os primeiros vereadores LGBTQIA+ assumidos na história da cidade.
Em 2019, David assumiu a cadeira de Jean Wyllys na Câmara dos Deputados após o jornalista desistir do mandato e decidir sair do país por conta das ameaças que vinha sofrendo.
Em 2022, o então deputado federal troca o Psol pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) após divergência à “proximidade excessiva com o Partido dos Trabalhadores (PT)”. David deixa o marido e três filhos.