Nos próximos quatro anos, a Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas de diveros estados serão ocupadas por pelo menos, 34 representantes diretos de movimentos sociais organizados do país.
Em defesa da justiça social e de pautas mais específicas como a reforma agrária popular, o direito à moradia e o direito à igualdade racial, organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e a Coalizão Negra por Direitos conseguiram eleger, no último domingo (2), 11 deputado(a)s federais e 23 deputado(a)s estaduais em diversas unidades da federação.
No caso do MTST, por exemplo, a coordenadora do movimento Ediane Maria (PSOL) foi eleita deputada estadual pelo estado de São Paulo com 175.617 votos. Mulher negra, nordestina e mãe solo de quatro filhos, aos 38 anos, Ediane será a primeira deputada estadual trabalhadora doméstica da história da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
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Outro líder do movimento, Guilherme Boulos (PSOL), foi eleito deputado federal com mais de um milhão de votos também pelo estado de São Paulo, tornando-se o segundo deputado federal mais votado do país em 2022.
Já o MST, que pela primeira vez lançou candidaturas próprias aos parlamentos, conseguiu eleger três deputados federais e quatro deputado(a)s estaduais.
Para representar os sem-terra em Brasília foram eleitos os deputados federais João Daniel (PT-SE), com 68.969 votos; Marcom (PT-RS), com 122.555 votos e Valmir Assunção (PT-BA), com 90.148.
Para defender as pautas do movimento nas Assembleias Legislativas estaduais, Adão Pretto (PT) foi eleito deputado no Rio Grande do Sul, com 64.975 votos; Marina do MST (PT) no Rio de Janeiro, com 46.422 votos; Rosa Amorim (PT), em Pernambuco, com 42.632 votos; e Manoel Missias, o “Missias do MST” (PT), no Ceará, com 44.853 votos.
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De acordo com Missias, a participação de representantes do movimento na política institucional do país será “um complemento” às lutas e mobilizações que a organização historicamente promove. Além disso, segundo o militante não só o MST, mas toda a sociedade brasileira será beneficiada com a eleição dos sem-terra.
“No momento em que nós temos nas esferas e espaços de poder um representante do povo, eleito pelo povo e que sabe das pautas do povo, que conhece a dor e a realidade do povo, eu não tenho dúvida que a sociedade só tem a ganhar ao eleger um representante que realmente conheça e faça a coisa acontecer com o mesmo comprometimento da organização, com o mesmo gosto de fazer a luta, de representar as pautas e fazer as defesas no momento que são discriminados, no momento que não são garantidos esses espaço”, explicou à Pulsar.
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Em relação às prioridades dos deputados e deputadas do MST no legislativo, Missias destaca a representação política dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e das cidades e a defesa dos direitos fundamentais da população pobre do Brasil.
“Muitas vezes a turma das elites vem nos tratar com discriminação, com preconceito, muitas vezes nos invisibilizando. A gente entende que essa será a nossa primeira prioridade: abrir espaço, dar voz e abrir caminhos para que a gente possa avançar com a nossa pauta”, pontuou.
“A segunda [prioridade] é que as nossas pautas precisam ser atendidas. Seja a democratização da terra, seja a reforma agrária, seja o direito a moradia, seja o direito ao trabalho, emprego e renda, seja o direito da juventude ter acesso à universidade, seja a luta para que a nossa juventude, principalmente a preta da periferia, não seja discriminada, que a polícia não olhe ela com preconceito, seja a luta daqueles que são invisibilizados e injustiçados como os LGBTQIA+, seja a luta pelo direito a educação, seja o direito à cultura, esporte e lazer, seja o direito à saúde… todas as pautas que hoje são defendidas pelo povo pobre do nosso Brasil para que o Estado garanta e garanta de uma forma igualitária pra todos”, concluiu Missias.
Quilombo nos Parlamentos
Em 2022, a Coalizão Negra por Direitos lançou o “Quilombo nos Parlamentos”, uma iniciativa de apoio a candidaturas de pessoas ligadas ao movimento negro, indicadas por organizações que compõem a Coalizão, e que concorreram a cargos no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas por todo o território nacional.
Segundo a Coalizão, o objetivo da ação era “reduzir o hiato de representatividade no Poder Legislativo” e “contribuir para um projeto de país mais justo para todas e todos, alinhado à luta contra o racismo”.
Das 120 candidaturas apoiadas pela iniciativa, 26 foram eleitas, sendo oito para a Câmara Federal e 18 para as Assembleias Legislativas de nove estados.
As deputadas e deputados federais eleitos foram: Benedita da Silva (PT-RJ), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Dandara Tonantzin (PT-MG), Erika Hilton (PSOL-SP), Valmir Assunção (PT-BA), Carol Dartora (PT-PR) e Denise Pessôa (PT-RS).
A lista dos deputados e deputadas estaduais é formada por: Olívia Santana (PCdoB), na Bahia; Andreia de Jesus (PT) e Macaé Evaristo (PT), em Minas Gerais; Carlos Bordallo (PT) e Lívia Duarte (PSOL), no Pará; Renato Freitas (PT), no Paraná; Dani Portela (PSOL) em Pernambuco; e Renata Souza (PSOL), Verônica Lima (PT) e Dani Monteiro (PSOL) no Rio de Janeiro.
Também fazem parte da lista: Divaneide Basílio (PT), no Rio Grande do Norte; Matheus Gomes (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Laura Sito (PT), no Rio Grande do Sul; e Paula Nunes “Bancada Feminista” (PSOL), Monica Seixas “As pretas” (Psol), Leci Brandão (PCdoB) e Thainara Farias (PT), em São Paulo.
Edição: Jaqueline Deister