

O Ministério Público Federal (MPF) anunciou, na última sexta-feira (14), que acompanhará as investigações sobre o assassinato da família de ambientalistas ocorrido em São Félix do Xingu, região sudeste do Pará.
José Gomes, conhecido como Zé do Lago, a esposa Márcia Nunes Lisboa e a filha Joene Nunes Lisboa foram encontrados mortos a tiros na última terça-feira (11) próximos à casa onde moravam na localidade conhecida como Cachoeira da Mucura, área rural de São Félix do Xingu. O casal vivia há 20 anos na região e desenvolvia um projeto ambiental de proteção de quelônios, repovoando as águas do rio Xingu com filhotes de tartarugas e tracajás.
Para o MPF, os fatos envolvidos no triplo homicídio “são de extrema gravidade e se inserem em um contexto de reiterados ataques a ambientalistas e defensores de direitos humanos no país”. Ainda de acordo com o órgão, “no procedimento que abriu para acompanhar o caso, o MPF deve cobrar das autoridades providências e investigações céleres sobre os crimes”.
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A investigação dos assassinatos está sob responsabilidade da Divisão de Homicídios do município de Marabá e do Núcleo de Apoio à Investigação da Polícia Civil de Redenção. Além do MPF, a investigação tem sido acompanhada por organizações de proteção aos direitos humanos como a Anistia Internacional, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).
Segundo a Polícia Civil, nenhum suspeito foi identificado ou preso até o momento. As suspeitas iniciais são de que os autores do crime sejam pistoleiros, mas a motivação do crime ainda segue sob investigação.
Violência
Em nota pública divulgada na última quinta-feira (13), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e outras 57 organizações sociais informam que há anos o município de São Félix do Xingu é conhecido por “conflitos fundiários graves” e destacam a preocupação com “as limitações dos órgãos de segurança pública do Estado em esclarecer as responsabilidades e causas de muitos assassinatos ocorrido no campo paraense”.
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Com base em dados da CPT, o documento aponta que, nos últimos 40 anos, 62 trabalhadores rurais e lideranças comunitárias foram assassinados em conflitos de terra em São Félix do Xingu e até hoje nenhum caso foi resolvido pelas autoridades do sistema de Justiça.
“Apenas no estado do Pará, nas últimas quatro décadas, a CPT já registrou 29 massacres com 152 vítimas. No mesmo período, 75 lideranças foram assassinadas no sul e sudeste do Estado”, acrescenta o texto.
Ainda de acordo com as organizações que assinam a nota, os conflitos em São Félix do Xingu seriam motivados por ações de “grilagens de terras públicas, desmatamento ilegal voltado à atividade da pecuária extensiva, invasões de terras indígenas e áreas de preservação, além da instalação de garimpos ilegais”.
Edição: Jaqueline Deister