O novo capítulo da história do Chile começa a ser escrito pelas mãos de uma mulher indígena. No último domingo (4), Elisa Loncón, pesquisadora acadêmica e ativista mapuche, foi eleita presidente da Convenção Constitucional chilena, órgão formado por 155 representantes populares que tem a responsabilidade de redigir a nova constituição do país. A eleição de Loncón marcou a sessão inaugural da convenção realizada na antiga sede do Congresso Nacional, na capital Santiago.
Vestida com traje típico e com a bandeira mapuche em mãos, a doutora em linguística fez questão de comemorar a nomeação primeiro na língua tradicional de sua etnia, o mapudungún, e em seguida em espanhol: “Quero agradecer a todo o povo chileno por ter votado em uma pessoa mapuche e mulher para mudar a história deste país”.
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No discurso de posse, Loncón ressaltou a importância de reconhecer a multiculturalidade do país e convidou os demais constituintes a unir esforços em torno da criação de “uma nova forma de ser democráticos”, com maior participação popular especialmente dos setores historicamente marginalizados da população.
Nascida na região de Araucanía, a ativista de 58 anos ocupa uma das 17 cadeiras reservadas aos povos originários na convenção. Além dos indígenas mapuche, o órgão conta com representantes dos povos: Aymara, Kawesqar, Rapanui, Yagan, Quechua, Atacameño, Diaguita, Colla e Chango.
A eleição
Elisa Loncón foi eleita em segundo turno com 96 dos 155 votos. No primeiro turno, a ativista teve o apoio de três grupos que compõem a Convenção: os indígenas, os socialistas e a Frente Ampla de esquerda. No segundo turno, somaram-se também os constituintes do Partido Comunista e da Lista Popular, formada por independentes de esquerda e centro-esquerda. Para o cargo de vice-presidente, foi eleito o advogado constitucional Jaime Bassa, representante da região de Valparaíso.
Embora as atribuições da presidência da Convenção ainda não estejam exatamente definidas, além do poder simbólico, espera-se que a ocupante do cargo tenha um papel fundamental no desenrolar das discussões. Ainda no domingo, ao final da cerimônia de instauração da Convenção, Loncón adiantou que um dos primeiros pontos a serem discutidos pelo colegiado será o pedido de anistia aos detidos nos distúrbios da revolta social ocorrida no país em outubro de 2019.
A libertação dos presos do levante de 2019 foi reivindicada, inclusive, em carta assinada por 60 constituintes que, um dia antes da abertura da Convenção, exigiam “garantias democráticas para a instalação da Assembleia”.