Por Rosa Gonçalves*
A Associação Comunitária de Radiodifusão de Independência (ACORDI), entidade responsável pela criação da FM Comunitária Independência, vem desde a sua criação, em 1997, somado com outras organizações comunitárias, como igrejas, sindicatos e outras associações, na divulgação de iniciativas de caráter popular e na comunicação a serviço da vida.
A rádio surgiu a partir da necessidade do povo. No município de Independência, localizado no interior do Ceará, na época de 1990, as comunidades eram mais isoladas, não tinham acesso fácil à internet, poucos tinham acesso ao jornal impresso e revistas e outras emissoras comerciais da região não ofereciam espaços, então sentimos a necessidade de nos comunicarmos, de seremos lembrados e ter uma rádio comunitária seria a possibilidade de superar vários desses desafios.
O primeiro obstáculo foi pensar o “fazer comunicação” diante do monopólio que só quem tinha acesso aos meios de comunicações eram os grandes veículos; o segundo desafio foi sair do isolamento para acessar as informações locais, regionais e nacionais; o terceiro e, extremamente importante, foi pensar e construir uma rádio que falasse a partir da realidade local, valorizando a construção por meio da organização popular.
Um capítulo dessa história que merece destaque é a questão das músicas. Nosso povo não era acostumado a ouvir músicas no estilo MPB. As outras rádios não tocavam. O público estava habituado a ouvir músicas apelativas e depreciativas. Fizemos um trabalho educativo e comunitário, como não tinha internet nesse tempo para baixar as músicas, buscamos com amigos adquirir muitos CDs e conseguimos ter um acervo musical com músicas populares de caráter regional e nacional.
Mobilização e reconhecimento
E ao longo desses 26 anos a Rádio Independência tem se consolidado no município a partir do esforço de voluntários que, unindo entidades comunitárias em vista de um objetivo comum, conseguiram, a partir da divulgação das informações locais, das iniciativas das comunidades e entidades, a valorização da cultura do nosso povo, a doação, a partilha, a profissionalização de jovens desempregados que viviam em situação de risco. Profissionalizamos muitos jovens que hoje estão atuando no mercado de trabalho.
Em 2011, a Associação Comunitária de Radiodifusão de Independência foi reconhecida com o prêmio ODM BRASIL que incentiva ações, programas e projetos que contribuem efetivamente para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
O reconhecimento veio a partir do projeto “Mulheres na Comunicação a Serviço da Vida”, desenvolvido pela Rádio Independência. O prêmio ODM BRASIL entendeu que a emissora contribui para a concretização de uma das metas da Organização das Nações Unidas (ONU) para o milênio: promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres na igualdade de gênero.
O sentido comunitário
A Rádio Independência tem como missão intensificar o seu papel social de levar a informação e a formação às pessoas da comunidade; lutar pelo direito à comunicação humana, à cidadania e na promoção da vida com mais dignidade. Além disso, entre seus objetivos está contribuir para que o nosso povo tenha acesso à informação de interesse à vida. A emissora também prioriza auxiliar no desenvolvimento da consciência crítica da população e apoiar na conquista dos direitos e no exercício da plena cidadania.
Outro ponto fundamental para a rádio é despertar o povo para a convivência com o semiárido, trabalhando as potencialidades e possibilidades do nosso município, colaborando na formação cultural, valorizando a diversidade (cultural, religiosa e LGBTQIA+), o local, o cotidiano, as iniciativas comunitárias, recriando a cultura tradicional adaptando as inovações.
A rádio mostrou um jeito novo de dialogar, pois tem uma comunicação participativa nas atividades dos movimentos sociais. Ao longo de sua história, a emissora se tornou um espaço de aprendizagem e oportunidades para as pessoas. Muitos jovens se profissionalizaram no rádio e hoje ocupam outros espaços, por exemplo.
Além disso, a rádio consegue fazer o papel de escutar as comunidades, suas reivindicações e cobrar as políticas públicas do poder local.
Na pandemia conseguimos manter a programação no ar, inclusive levando a boa música, a boa informação, as orientações sanitárias com debates sobre os impactos da Covid-19 na economia, na saúde mental, durante e após a pandemia e ainda conseguimos explorar mais as tecnologias para acessar as pessoas e conseguir, no isolamento social, nos mantermos conectados.
Já com o programa “Vida de Mulher” vamos construindo um debate sobre as questões de gêneros e o combate à violência doméstica contribuindo para a participação das mulheres no rádio, o empoderamento feminino e no combate ao machismo.
São 26 anos mantendo sua missão. Procuramos fazer com que as pessoas que assumem a gestão e a programação da emissora se mantenham fieis aos princípios e valores Rádio Independência, criando sempre a oportunidade para que todas as pessoas da comunidade manifestem a sua voz.
Celebramos seu aniversário de 26 anos de existência dia 10 de fevereiro com muita animação. Realizamos um festival com a cultura local: artistas, poetas, danças das crianças, capoeiristas e a terceira idade mostrando sua arte e seus talentos.
Viva a Rádio Independência!
*Rosa Gonçalves é professora e psicopedagoga. Militante sindical. Feminista. Diretora da Associação Comunitária de Radiodifusao de Independência do Ceará (ACORDI). Comunicadora e produtora do Programa Vida de Mulher pela FM Comunitária de Independência.
Edição: Jaqueline Deister