No meio da construção de uma barragem cercada de irregularidades, pescadores do bairro de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, já estão há mais de três meses sem trabalho. Pesca prejudicada, barcos quebrados, risco de morte e acidentes, além de problemas de saúde, passaram a fazer parte do cotidiano de centenas de trabalhadores.
A soleira submersa, como é chamada a barragem, é uma estrutura hidráulica que está sendo construída no Canal do Rio São Francisco para contenção da entrada de água do mar na água do rio. A estrutura é formada por estacas de metal que atuam no represamento da água salgada que não é útil à atividade industrial da região, que se abastece no rio Guandu. A obra seria uma alternativa à crise hídrica vivida na região.
De acordo com Gabriel Strautman, membro do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), instituição que apoia a luta dos pescadores, no dia 15 de abril deste ano, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) concedeu a autorização ambiental para obra emergencial de construção da soleira pela Associação das Empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz e Adjacências (Aedin), formada pela ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA),Gerdau e Furnas, entre outras. A autorização ambiental tem validade de um ano. Somente no dia 9 de maio, os técnicos do Inea se reuniram com os pescadores da região para expor o projeto.
Segundo o pescador Jaci do Nascimento, na reunião os técnicos asseguraram que a obra não causaria impacto negativo à pesca da região. Quando questionados pelos pescadores sobre possíveis alternativas, os técnicos argumentaram que a obra já estava autorizada pela Marinha e pelo Inea.
Nascimento, que trabalha em Santa Cruz há mais de 30 anos, conta que a região já chegou a ter cerca de 700 pescadores. Hoje o número chegaria a 370. Porém, somente 114 pescadores lutam contra a barragem e já conseguiram paralisar as obras algumas vezes. Jaci do Nascimento conta que já são muitas lutas e promessas ao longo dos anos, com isso a maioria dos trabalhadores ficam desanimados. Além de dimunuir a passagem dos pescadores para o mar, a barragem tornou a navegação muito perigosa, o que coloca os pescadores em risco e sem trabalho. (pulsar)