

Desde o início do mês circula na Argentina um documento interno da empresa petrolífera estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), que reconhece que “não há apoio social” para o projeto de exploração e extração de petróleo offshore em águas ultraprofundas na costa do país. No texto, a empresa ainda define as organizações ambientais como “guerrilheiras” e propõe “distorcer e ridicularizar” as reivindicações socioambientais.
O documento – vazado nas redes sociais pela organização XR – foi redigido por uma empresa de consultoria em janeiro de 2022 para promover uma estratégia de confronto contra grupos socioambientais que rejeitam o projeto de exploração de petróleo ao longo de toda a Costa Atlântica e, em particular, na costa de Mar del Plata, a histórica e mais importante cidade balneária argentina.
Durante o governo de direita de Mauricio Macri, se fizeram concessões para a exploração offshore da Costa Atlântica do sul do país de forma precipitada e sem consultar a população. A área envolvida abrange mais de 200 mil quilômetros quadrados do mar argentino e foi concedida a treze empresas, incluindo a própria YPF. Além da estatal, constam na lista grandes transnacionais como Shell, ExxonMobil, British Petroleum, Equinor e Qatar Petroleum.
O governo peronista de Alberto Fernández, por sua vez, tentou reativar o projeto, encontrando forte oposição dos cidadãos, que denunciaram a falta de estudos ambientais e audiências públicas exigidas por lei, bem como uma série de irregularidades nas concessões outorgadas pelo governo.
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Além dos grupos ambientais e cidadãos que rejeitam o projeto, sindicatos e trabalhadores da pesca e do turismo também criticaram a iniciativa e denunciaram o impacto econômico que esse tipo de exploração de petróleo poderia ter em uma região que tem no mar seus principais recursos de desenvolvimento.
De acordo com o documento, a principal estratégia da YPF é “distorcer a essência da questão”. Associar o ambientalismo a uma moda “ridícula e louca”, comparando-o à “esquerda que quer matar o capitalismo”. Enfatizar o “nacionalismo” e os supostos benefícios econômicos que ele traria ao país.
Segundo organizações ambientais, trata-se de uma campanha para manipular a opinião pública a fim de encobrir os danos ambientais e a pilhagem econômica e fazer com que os interesses das empresas petrolíferas sejam assumidos como interesses nacionais.
Edição: Filipe Cabral