A Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral realizou, nesta terça-feira (2), no Senado Federal, um ato em defesa das eleições e contra a violência política no país. Além dos representantes das mais de 200 entidades e organizações da sociedade civil que compõem a Coalizão, o evento contou com a presença de parlamentares e representantes de embaixadas.
Durante o ato, os manifestantes fizeram questão de defender o sistema eleitoral dos ataques promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores e apresentaram a Carta ao Congresso Nacional, que será entregue ao presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Além de reafirmar o compromisso da Coalizão com “a lisura e integridade do processo eleitoral e com as instituições da Justiça Eleitoral”, o documento requere que “o Congresso Nacional reaja às ameaças do Senhor Presidente da República manifestando-se claramente contrário a qualquer aventura golpista”.
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De acordo com as entidades integrantes da Coalizão, é “inadmissível” que o chefe do Executivo “valha-se de seu cargo, para atuar de forma exatamente oposta a seus deveres jurídicos e institucionais, atacando de forma periódica, reiterada e sistemática o sistema eleitoral brasileiro, dirigindo-lhe críticas infundadas, dúvidas e afirmações desprovidas de respaldo técnico e racional”.
“É isenta de dúvidas a forma como o Brasil vem, ao longo de décadas, aprimorando e fazendo evoluir seu sistema de votação e de apuração de votos. Esse sistema que, em todas as eleições realizadas, entregou seus resultados dentro da mais ampla e transparência lisura, foi, inclusive, o sistema que permitiu que o atual Presidente assumisse seu cargo e fosse diplomado, com mais de 50 milhões de votos, nas últimas eleições”, acrescenta o texto da carta.
A Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc Brasil) é uma das organizações que assinam a carta e realizou a transmissão ao vivo do ato através das redes sociais.
Defesa da democracia
Durante o ato, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, destacou que “a democracia para a classe trabalhadora é muito mais que o direito de votar em quem quiser, de se expressar de maneira livre”. Segundo ele, “é na democracia que a classe trabalhadora pode se organizar, reivindicar, conquistar direitos”.
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Na mesma linha, a reverenda Tatiane Ribeiro, representante do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) ressaltou que a união em torno da defesa da democracia representa também a defesa da justiça e da vida:
“Saber que nós estamos com a nossa democracia sendo ameaçada nos entristece muito. Nós, mais do que nunca, precisamos nos unir como população, como pessoas cristãs, em nome da justiça, em nome da democracia, em nome do Estado laico, onde Deus não está acima de ninguém, mas está no meio do seu povo, junto daqueles que sofrem, daqueles que passam fome. Nós somos a favor da justiça, a favor da vida. Do Deus que está junto dos pobres, das viúvas, das crianças, junto das pessoas LGBTQIA+. Nós temos que defender a justiça. Nós não podemos nos calar”, afirmou.
“Não vamos desistir da luta pela democracia. Muito pelo contrário. Estamos vivendo em 2022 um marco de reconstrução do Brasil e a Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral representa muito bem isso”, complementou o representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Rud Rafael.
Violência Política
O ato da Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral também contou com a participação de Daniel Godoy, advogado da família de Marcelo Arruda, dirigente sindical assassinado no último mês em Foz de Iguaçu quando comemorava 50 anos de idade.
De acordo com Godoy, o Brasil tem experimentado “um processo paulatino de enfraquecimento das instituições” e, embora tenha sido “o caso mais emblemático e violento dos últimos tempos”, a morte de Marcelo “não é resultado de um evento único e solitário no processo de violência política”.
Para o advogado, “é um constrangimento para o povo brasileiro” ter que defender a democracia ainda hoje, passados mais de 30 anos da ditadura militar.
“O que a família espera é, primeiro, que as pessoas não se deixem abater com esses processos de violência. Porque é isso que faz com que a vitória do fascismo seja possibilitada. Ou seja, é a resistência, a garantia da unidade e a garantia da solidariedade que faz com que tudo isso seja rejeitado”, apontou.
Durante a fala, Godoy também destacou a importância do papel desempenhado pela imprensa tanto no caso de Marcelo, como na defesa da democracia e de direitos políticos de modo geral.
“Se nós não tivéssemos a imprensa cobrindo esse episódio do Marcelo, o resultado da tentativa de falsificação no processo de inquérito policial teria sido um resultado positivo. Desde o início a polícia do Paraná tentou dizer que não havia motivação política. Foi a nossa pressão através da imprensa que permitiu que o Ministério Público denunciasse o [Jorge] Guaranho pelo crime de homicídio qualificado duas vezes por motivação política”, explicou.
Volta às ruas
Ao longo do evento no Senado Federal, os integrantes da Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral aproveitaram para convocar os presentes e toda população brasileira a participar da mobilização nacional em defesa da Justiça Eleitoral que está programada para o dia 11 de agosto.
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As manifestações têm sido organizadas pelas frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular e pela Coalizão Negra por Direitos e devem ocorrer em diversas cidades do país. Diferente dos anos anteriores, quando o mote dos atos era o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, no dia 11 o tema principal será a defesa da democracia, das eleições livres e do fim da violência política.
Edição: Jaqueline Deister